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“2017: fracassos do neoliberalismo e do neodesenvolvimentismo no Brasil”, por Marco Antônio Perruso

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O ano de 2017 ter­mina mar­cado pelas con­tí­nuas crises po­lí­tica, so­cial e econô­mica no Brasil.

A con­ti­nui­dade dessas crises ex­pressa fra­cassos po­lí­tico-ide­o­ló­gicos dos grandes blocos bur­gueses que se re­ve­zaram no poder nos úl­timos anos: o ne­o­li­beral, dos go­vernos FHC e Temer, e o ne­o­de­sen­vol­vi­men­tista, dos go­vernos Lula e Dilma.

O go­verno Temer, sem ne­nhuma le­gi­ti­mi­dade so­cial, pa­rece en­trever o fim da re­cessão, mas a que custo? Grande de­sem­prego e re­ti­rada de di­reitos so­ciais e tra­ba­lhistas re­sultam em duas con­sequên­cias dis­tintas.

No plano so­ci­o­po­lí­tico, mais vi­sível, Temer re­pete o fim da era FHC, sendo um go­verno de bai­xís­sima po­pu­la­ri­dade, odiado pelos mais po­bres por seu eli­tismo, con­ser­va­do­rismo e por sua cor­rupção – mesmo com toda a blin­dagem nas redes so­ciais, pro­mo­vida por MBL, bol­so­na­ristas e cia.

In­siste-se no dis­curso re­for­mista com Hen­rique Mei­relles, en­quanto o PSDB tenta evitar o abraço mortal do an­ti­po­pular PMDB nas elei­ções de 2018.

No plano so­ci­o­e­conô­mico, menos ní­tido, pode se re­velar uma per­cepção po­pular de que não basta a eco­nomia voltar a crescer, se assim se dá às custas de sa­cri­fí­cios ainda mai­ores da classe tra­ba­lha­dora. Esta con­tra­dição, con­tudo, se volta também para o ne­o­de­sen­vol­vi­men­tismo lu­lista: de que adi­antou o Brasil crescer na dé­cada pas­sada, se tudo ruiu como um cas­telo de cartas nos anos se­guintes? A po­pu­la­ri­dade atual de Lula, neste sen­tido, pode ser tênue como antes se mos­trou com Dilma.

En­quanto o ne­o­li­be­ra­lismo bra­si­leiro do sé­culo 21 fra­cassa em termos de le­gi­ti­mi­dade po­lí­tica, o ne­o­de­sen­vol­vi­men­tismo lu­lista fra­cassa na mo­bi­li­zação pré-elei­toral que durou todo o ano de 2017.

A nar­ra­tiva do golpe é achin­ca­lhada dia a dia, com a re­to­mada dos laços de Lula/PT/PCdoB com os mesmos par­tidos con­ser­va­dores de sempre, PMDB à frente. O dis­curso da mi­li­tância lu­lista nas redes so­ciais é ne­gado na prá­tica, apesar de sua es­tri­dência.

As ban­deiras do lu­lismo não ti­veram ne­nhum apelo po­pular, caso das fi­nadas Di­retas Já, canoa fu­rada em que o setor re­for­mista do PSOL em­barcou. O mesmo se deu com a de­fesa da “de­mo­cracia” e dos di­reitos elei­to­rais de Lula.

As frentes po­lí­ticas lu­lista (Frente Brasil Po­pular) e ne­o­lu­lista (Frente Povo Sem Medo) pro­duzem re­sul­tados po­lí­ticos inó­cuos, dada a falta de apelo so­cial na in­sis­tência no pro­grama de­mo­crá­tico-po­pular, que fra­cassou, como é ine­vi­tável – mais cedo ou mais tarde – em qual­quer po­lí­tica de con­ci­li­ação de classes no ca­pi­ta­lismo pe­ri­fé­rico.

Tais fra­cassos do lu­lismo con­trastam com a cen­tra­li­dade das lutas so­ciais que se afirmou em 2017. Impôs-se o que a es­querda so­ci­a­lista (parte do PSOL e do MTST, além de CSP-Con­lutas, PSTU, PCB e anar­quistas/au­to­no­mistas) pro­punha: uma pauta clas­sista, de de­fesa dos di­reitos dos tra­ba­lha­dores, das mu­lheres, ne­gros, jo­vens etc., es­tra­te­gi­ca­mente com­ba­tendo as con­trar­re­formas de Temer.

O exemplo mais vi­to­rioso da luta po­lí­tica em 2017 foi a Greve Geral de 28 de abril e o ato em Bra­sília no mesmo dia (que, à base de muita ação di­reta, ba­lançou o go­verno Temer), os quais des­mon­taram as ilu­sões lu­listas e des­le­gi­ti­maram, na prá­tica, o re­bo­quismo pra­ti­cado pelas di­re­ções do PSOL (Uni­dade So­ci­a­lista e In­sur­gência) e do MTST em re­lação ao mesmo lu­lismo.

Daí a rá­pida re­ação destes e ou­tros se­tores, CUT e Força Sin­dical à frente, em des­mo­bi­lizar a greve geral de junho e em des­con­vocar a greve geral de de­zembro.

Os ga­bi­netes da ex-querda lu­lista apostam mais uma vez em tec­no­crá­ticas po­lí­ticas pú­blicas, su­pos­ta­mente re­den­toras de nossa de­si­gual­dade – que, no en­tanto, não di­mi­nuiu nos go­vernos do PT. Afer­rados ce­ga­mente ao co­la­bo­ra­ci­o­nismo de classe, temem as ações de rua e a par­ti­ci­pação pela base das massas po­pu­lares, em nome do elei­to­ra­lismo que quer nos fazer es­perar 2018.

Não con­se­guem per­ceber que qual­quer mu­dança ins­ti­tu­ci­onal pre­cisa ser im­pul­si­o­nada e sus­ten­tada pela luta autô­noma e com­ba­tiva das classes tra­ba­lha­doras.

Elas talvez es­tejam re­to­mando al­gumas li­ções que já apren­deram, desde os anos 1970 e 80 ao menos.

Marco An­tonio Per­russo é pro­fessor de So­ci­o­logia da UFRu­ralRJ, mi­li­tante do PSOL e do ANDES-SN.

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