A endometriose é uma doença que afeta cerca de 15% das mulheres brasileiras, de acordo com o Ministério da Saúde. Nesta quarta-feira (7), é reconhecido o Dia Internacional da Luta contra a Endometriose com o objetivo de conscientizar a população sobre a condição, que pode causar sintomas incapacitantes e levar à infertilidade.
A doença é caracterizada pelo crescimento de fragmentos de tecido endometrial — que reveste a área interna do útero — para fora do órgão. A causa exata para a endometriose ainda é desconhecida, mas entre os fatores de risco estão a menstruação precoce, gravidez após os 30 anos e anomalias estruturais no útero.
Um dos principais sintomas da endometriose é a forte cólica menstrual que, em muitos casos, pode ser incapacitante.
“Ela pode começar dias antes da menstruação e persistir até o sangramento cessar. Além disso, é comum que pacientes com endometriose não respondam bem aos medicamentos usuais para cólica”, explica Maíra Campos, ginecologista endócrina e especialista em reposição hormonal, à CNN.
De acordo com Campos, a cólica menstrual deixa de ser considerada “normal” quando impacta a qualidade de vida, afetando atividades diárias, trabalho, estudo e a vida sexual.
Além da cólica menstrual, outros sintomas da endometriose podem incluir:
- Dor durante a relação sexual (chamada dispareunia);
- Dor para evacuar ou urinar, principalmente no período menstrual;
- Sangramento menstrual muito intenso;
- Infertilidade ou dificuldade para engravidar;
- Fadiga crônica;
- Inchaço abdominal;
- Alterações intestinais cíclicas.
“É fundamental observar a repetição desses sintomas ao longo dos ciclos, pois ajudam no raciocínio clínico”, afirma Campos.
Além disso, em casos de endometriose profunda — quando o tecido endometrial atinge outros órgãos além do útero, como intestino, bexiga, ureteres e até diafragma — os sintomas podem ir além dos citados acima, incluindo sangramento nas fezes, dor ao urinar e sangue na urina, dor pélvica intensa e dor lombar.
“Em casos mais raros, pode haver dor torácica cíclica, relacionada a focos de endometriose no diafragma ou na pleura”, alerta.
Para confirmar o diagnóstico de endometriose, é possível realizar exames de imagem, como ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal e ressonância magnética pélvica, para identificar as lesões.
“Embora o diagnóstico definitivo só possa ser feito por biópsia (geralmente durante videolaparoscopia), os exames de imagem hoje conseguem indicar com bastante precisão os focos de endometriose, permitindo que muitas pacientes sejam tratadas sem a necessidade de cirurgia diagnóstica”, explica Campos.
Como a endometriose afeta a fertilidade?
Um dos sintomas característicos da endometriose é a infertilidade, sendo uma das principais causas para a condição. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 40% das mulheres com a doença enfrentam dificuldade para engravidar.
“A condição pode comprometer a fertilidade de diversas formas. Além das aderências e distorções anatômicas, os focos de endometriose liberam substâncias inflamatórias, afetando a qualidade dos óvulos e a receptividade do endométrio. A redução da reserva ovariana também pode ocorrer, especialmente na presença de cistos endometrióticos (endometriomas) nos ovários”, explica Alessandra Evangelista, especialista em Reprodução Assistida da clínica VIDA, unidade do Fertgroup.
De acordo com Evangelista, se não tratada corretamente, os impactos da endometriose na fertilidade podem se tornar irreversíveis. “No entanto, com o tratamento adequado, muitas mulheres conseguem preservar ou recuperar a sua fertilidade. Por isso, o diagnóstico precoce e a adoção de estratégias de preservação são essenciais”, destaca a especialista.
E como é feito o tratamento?
O tratamento pode variar de acordo com a gravidade dos sintomas, da localização das lesões e da vontade da mulher de engravidar.
“Entre as opções clínicas estão os anticoncepcionais hormonais (combinados ou apenas progesterona), dispositivos intrauterinos [DIU] com levonorgestrel, e medicamentos que bloqueiam a produção de estrogênio, como os análogos de GnRH”, elenca Campos.
Já em casos mais graves, ou em que há resistência ao tratamento clínico, a cirurgia passa a ser indicada. “O procedimento remove os focos de endometriose, restaurando a anatomia pélvica e aumentando as chances de gestação”, afirma Evangelista. Por isso, o tratamento cirúrgico também é recomendado a pacientes que têm o desejo de engravidar.
Além disso, o congelamento de óvulos é uma técnica recomendada para mulheres que possuem endometriose em estágio moderado ou avançado. O procedimento permite que os óvulos sejam coletados e armazenados enquanto a paciente ainda possui uma boa reserva ovariana, garantindo maiores chances de sucesso em futuras tentativas de gravidez.
De acordo com Evangelista, o ideal é que a preservação seja realizada antes que a endometriose cause danos mais severos aos ovários ou reduza significativamente a qualidade dos óvulos. “Isso pode ser feito em qualquer fase da vida reprodutiva, mas é particularmente eficaz até os 35 anos, quando a reserva e a qualidade dos óvulos são melhores”, afirma.
Além disso, a Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) alerta que pacientes com endometriose que pretendem realizar cirurgias ginecológicas também devem considerar o congelamento de óvulos antes do procedimento.
Endometriose: demora no diagnóstico é desafio para tratamento
Fonte: www.cnnbrasil.com.br