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Nos EUA, livro sobre esquema para esconder declínio de Biden causa polêmica

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Em 27 de junho de 2024, no meio das eleições mais polarizadas da história dos Estados Unidos, os americanos se depararam com um debate televisionado em que o então presidente e candidato à reeleição esqueceu palavras e perdeu a linha de raciocínio. O péssimo desempenho de Joe Biden deixou os democratas em pânico.

A performance no debate da CNN deu ainda mais coro às alegações de que o então presidente, aos 81 anos, não tinha condições de governar o país por mais quatro anos.

Doadores de campanha congelaram recursos – e, mesmo sem a clareza de quem poderia substituí-lo, a pressão para que Biden deixasse a corrida ficou grande demais. Ele acabou cedendo e, quase um mês depois, em 21 de julho, anunciou que estava desistindo de tentar a reeleição.

Mas, um livro lançado nessa semana nos Estados Unidos afirma que as condições de saúde do ex-presidente americano já vinham piorando há tempos.

Em “Original Sin” ou “Pecado Original: o declínio do presidente Biden, seu acobertamento e sua escolha desastrosa de concorrer de novo”, o âncora da CNN Jake Tapper e o jornalista da Axios Alex Thompson descrevem como o círculo mais próximo de Biden, a Casa Branca e o partido democrata escolheram ignorar ou esconder os sinais de declínio cognitivo do ex-presidente

Em entrevista a Erin Burnett, da CNN, os autores disseram que fizeram entrevistas com mais de 200 pessoas – e nem todas aceitaram ser identificadas no livro. “Muitas pessoas só queriam desabafar, tirar esse peso do peito depois de manter esse segredo horrível por tanto tempo”, afirmou Tapper.

“E todos os exemplos (no livro) na verdade são só uma fração do que nós tínhamos. Porque começou a ser repetitivo”, contou Thompson, se referindo ao tamanho da obra de 331 páginas, que poderia ser ainda maior.

O livro traz revelações como um episódio em que Joe Biden não teria reconhecido o ator George Clooney, um dos grandes doares do partido, em um evento de arrecadação de fundos.

Em outro momento, em uma reunião de gabinete, o então presidente teria se esquecido do nome do próprio conselheiro nacional de segurança, Jake Sullivan.

A intérprete da CNN, Denise Bobadilha, trabalhou traduzindo discursos de Joe Biden do começo ao fim do mandato. E se lembra das diferenças cada vez mais gritantes nas falas do democrata ao longo do tempo.

“Durante a campanha de 2020 ele discursava muito bem, só que ele discursava no zoom praticamente porque a gente estava na pandemia. Então ele não tinha plateia, a gente não conseguia avaliar”, conta.

Ela lembra que as dificuldades ficaram mas evidentes a partir de 2022, quando Biden fez muitos discursos para novas leis de infraestrutura em eventos, e passou a trocar números. “Pra gente que traduz é muito difícil. Ele fala assim: ’21 (ammm)’, ai você não sabe se ele está falando milhão ou bilhão. E ele começava a se confundir, a se corrigir. E isso dificultava muito.”

Denise lembra que em 2024 os intérpretes comentavam sobre como estava difícil traduzir os discursos do democrata, que passou a emendar palavras. “Ele falava assim: ‘Nós precisamos de empregos nas áreas de ener…’ Siderurgia? Ferrovia? Do que ele está falando? Então começou a ficar muito difícil.”

Apesar da percepção do público de que as habilidades cognitivas de Biden estavam, sim, piorando, o livro falando sobre o suposto esquema de acobertamento causou polêmica nos Estados Unidos, e dividiu os democratas.

Enquanto alguns acreditam que olhar para o passado é importante, outros acham que lançar o livro agora não ajuda muito, e a energia deveria estar focada em concentrar esforços para impedir a agenda de Donald Trump.

Usamah Andrabi, o diretor de comunicações do Justice Democrats, um comitê de ação política que quer impulsionar novas candidaturas no Partido Democrata, afirma que os integrantes do partido falharam ao perder não só a presidência, mas também a maioria na Câmara dos Deputados e no Senado dos Estados Unidos. E a questão vai além de Joe Biden – passa também pela falta de novos nomes no partido.

“Nós passamos por um ciclo inteiro de ‘ele está bem, ele não está bem, ele vai sair, não é ele, será Kamala, o que vai acontecer?’. (…) Obviamente os eleitores deixaram claro que gostariam de ter tido uma escolha na última eleição”, conta Andrabi.

“É por isso que operamos em primárias democratas, em níveis congressionais porque acreditamos que os eleitores merecem pelo menos uma voz nesta democracia. E esse é o nosso caminho. Há muito a dizer sobre o presidente Biden e o que ele deveria ou não ter feito, mas isso já passou. E agora acho que é hora de aprendermos com nossos erros e não os repetirmos.”

Para Usamah, a percepção do país sobre os democratas piorou não só por causa da eleição do ano passado, mas por causa de uma série de erros ao longo do caminho. “Eu acho que o problema é que o Partido Democrata é visto como uma instituição de elite fora de alcance e continua sendo assim focando em doadores ricos, no Vale do Silicío e em Wall Street”, afirma.

O diretor de comunicações do Justice Democrats avalia que os integrantes do partido continuam ouvindo os mesmos conselheiros políticos há anos e não buscam novas vozes. “Ouvir os mesmos círculos internos de pessoas que têm aconselhado políticos desde antes de eu nascer para tentar construir um novo caminho a frente, quando realmente o que precisamos é uma nova geração de pensadores dentro do Partido Democrata que pode realmente nos guiar para ser um partido por algo, em vez de apenas contra Donald Trump”, complementa.

A polêmica do livro e a divisão entre os democratas sobre qual caminho seguir dizem muito sobre o cenário político dos Estados Unidos. Mas em um trecho de “Pecado Original”, os autores afirmam: “As lições desse livro vão além de um homem e um partido político. Elas falam sobre questões mais universais sobre dissonância cognitiva, pensamento coletivo, coragem, covardia e patriotismo.”

Fonte: www.cnnbrasil.com.br

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