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Aborto espontâneo: como é o luto de pais que perderam um bebê?

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Após revelar que perdeu o bebê que estava esperando, no domingo (5), a influenciadora Maíra Cardi, 41, se tornou um dos assuntos mais comentados na internet. Seu terceiro filho era fruto de seu relacionamento com o coach de finanças Thiago Nigro, 34, e, desde que a notícia foi revelada, recebeu críticas por manter sua rotina profissional e pelo marido ter exposto imagem do feto após ter sido expelido.

Em desabafo, a influenciadora afirmou que não era segredo para ninguém que estava de luto. No entanto, revelou que não esperava enfrentar dores de parto. Em seguida, ela comentou sobre a postagem do marido: “A gente nunca sabe como vai reagir diante de certas situações. Cada um lida com a dor de uma maneira completamente diferente, muitas vezes de forma irracional. Tem pessoas que se distanciam da dor, e acho que o Thiago fez isso”.

O que é luto perinatal?

O luto perinatal — como é chamado o sentimento após a perda de um bebê, seja por aborto espontâneo ou por ter nascido sem sinais vitais — pode ser sentido de diferentes formas pelos pais.

“O luto perinatal é um luto relacionado à perda de um bebê. Quando falamos de perdas, isso pode acontecer durante a gravidez ou durante o parto”, explica Raquel Baldo, psicanalista especialista em luto, à CNN. “O luto é sempre uma experiência de vida muito difícil. Eu estudo luto há 20 anos, acompanhei diversos casos e histórias de perdas em diferentes situações e condições familiares, e todas elas vão sempre contar algo muito único e muito peculiar”, acrescenta.

Diante disso, os sintomas do luto perinatal variam de uma mãe para a outra e, também, de um pai para o outro. “A tristeza, o choro, a vontade de ficar isolado e de não conversar com as pessoas, não achar graça nas situações, não conseguir desejo de sorrir ou, até mesmo, de viver. Esses são alguns dos sintomas do luto que podem ser confundidos com sintomas de depressão, mas o luto não é depressão. A depressão é um transtorno mental e o luto, um estado emocional”, explica Rafaela Schiavo, psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline, à CNN.

Perda de bebê rompe, de forma repentina, ligação entre mãe e filho

Do ponto de vista de Baldo, uma das particularidades mais delicadas do luto perinatal é o rompimento de uma relação simbiótica entre mãe e bebê. “O bebê é uma parte celular daquela mulher, ele está ligado por um cordão umbilical, ou seja, tem uma experiência corpórea muito direta. Então, a mãe é, realmente, a pessoa que mais sente essa perda, apesar de isso não minimizar o sentimento do pai ou dos outros familiares”, afirma a psicanalista.

Outro ponto delicado do luto perinatal é o rompimento de expectativas e planos trazidos pela perda do bebê.

“Estamos falando de uma relação que estava construída em um lugar da fantasia, do sonhar. Na psicanálise, chamamos isso de ‘pulsão de vida’. O bebê estava vivo dentro da fantasia e do sonho, então havia expectativas, desejos, planos futuros e toda uma história para se concretizar. E isso é interrompido com essa perda. O lugar da dor não é nem de perder o que se tinha, mas de perder aquilo que estava por chegar”, completa.

Quais estratégias podem ajudar no processo de luto?

Pais que passaram pela perda de um bebê necessitam de espaço para falar sobre o assunto, de acordo com Schiavo. Além disso, o acolhimento emocional e a validação do sofrimento por parte de amigos e familiares é fundamental.

“Pelo fato de que, às vezes, pode existir um aborto espontâneo no primeiro trimestre de gestação, por exemplo, as pessoas minimizam a dor dessa perda, como se eles não tivessem ainda se vinculado a esse bebê”, observa a psicóloga. “Então, esse é um tipo de comparação que não se deve fazer de forma alguma, porque não importa o tempo que a pessoa tinha de gestação. Aquele bebê que foi perdido era o filho deles”, ressalta.

A especialista explica que é necessário garantir espaço temporal e físico para os pais lidarem com o luto perinatal. “As pessoas não compreendem muito e não dão esse espaço. Isso é ruim, porque quando as pessoas não têm esse espaço para vivenciar o luto, para poder expressar sua tristeza, esse processo pode até se tornar um problema de saúde mental, que seria a depressão”, afirma Schiavo.

“É a sociedade que precisa se adaptar, respeitar esse período de luto e deixar ele mais visível, no sentido de: ‘vamos falar sobre isso’”, orienta.

Nas palavras de Baldo, é preciso permitir que o luto seja sentido e reconhecido. Para isso, é importante ter por perto uma rede de apoio, que pode ser formada por familiares, amigos ou profissionais de saúde de confiança. “Geralmente, é interessante buscar um profissional da área psíquica para ter um espaço onde você possa falar e, também, não falar, porque o mundo te cobra a recuperação de algo que você ainda não tem dimensão”, afirma a psicanalista.

Outra dica importante é racionalizar o autocuidado. “É preciso cuidar de si. Cuidar da sua saúde, do seu trabalho, da sua vida, da sua casa, entender que, aos poucos, você pode retomar atividade de vida sem grande pressão”, orienta Baldo.

Rede de apoio deve estar preparada

Buscar apoio externo faz parte do processo para lidar com o luto perinatal, conforme elencado pelas especialistas. No entanto, essa rede deve estar preparada para acolher pais que estão passando pela perda. Isso inclui evitar expressões que possam minimizar o sofrimento do casal.

“Muitas pessoas desejam oferecer apoio ao casal que perdeu o seu bebê durante este período perinatal. No entanto, acabam falando coisas que não deveriam falar, como: ‘Foi melhor assim’, ‘Deus quis assim’, ‘Poderia ter acontecido algo pior’. Essas são frases que não deveriam ser ditas, mas que, infelizmente, vêm na cabeça de muitas pessoas. São frases que minimizam e inviabilizam esse luto”, afirma Schiavo.

Como oferecer apoio, então? “Abrace, olhe no olho, segure na mão. Não precisa falar nada. Só de fazer isso já está ajudando muito. Se quiser falar algo, diga: ‘Sinto muito, você não deveria estar passando por isso. Nenhuma mulher e nenhum homem deveriam perder um filho. Não sei o tamanho da dor que vocês estão sentindo neste momento, mas se precisar de um apoio, estou aqui’”, sugere a psicóloga.

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Fonte: www.cnnbrasil.com.br

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