Áudios divulgados pelo veículo de imprensa Axios revelam problemas de memória e confusões mentais sofridas ex-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante uma entrevista gravada com o ex-conselheiro especial americano Robert Hur.
A conversa aconteceu durante a investigação, agora encerrada, sobre o manuseio indevido de documentos confidenciais, após Biden deixar o cargo de vice-presidente em 2016.
A entrevista tornou-se uma das partes mais notáveis e politicamente controversas da investigação de Hur, que concluiu não haver provas suficientes para acusar Biden de manipulação criminosa de registros após sua vice-presidência. Em um relatório final, Hur chamou Biden, que na época tinha 81 anos, de “um homem idoso, simpático e bem-intencionado, com memória fraca”.
Embora as transcrições da entrevista de Biden com Hur tenham se tornado públicas no ano passado, os áudios só foram divulgados agora.
Um funcionário do Departamento de Justiça confirmou à CNN a autenticidade do material.
Uma porta-voz de Biden, Kelly Scully, disse à CNN: “As transcrições foram divulgadas pelo governo Biden há mais de um ano. O áudio não faz nada além de confirmar o que já é público.”
O áudio volta à tona em um momento em que as questões sobre as capacidades físicas e mentais de Biden durante a presidência são questionadas.
No libro “Original Sin: President Biden’s Decline, Its Cover-Up, and His Disastrous Choice to Run Again” (Pecado Original: O Declínio do Presidente Biden, Seu Acobertamento e Sua Escolha Desastrosa de Candidatar-se Novamente), de Jake Tapper, da CNN, e Alex Thompson, da Axios – detalha os sinais do declínio de Biden durante o mandato.
Biden concedeu entrevistas a Hur por cinco horas ao longo de dois dias no ano de 2023, como parte da investigação do procurador especial sobre o manuseio de documentos confidenciais.
Em um áudio de quase quatro minutos e meio publicado pelo Axios, Biden foi questionado sobre onde guardava documentos após deixar o cargo de vice-presidente em 2017. Biden fez uma longa pausa e disse: “Não sei”, e então passou a falar sobre coisas aparentemente não relacionadas que aconteceram durante aquele período, como pessoas que o incentivaram a concorrer à presidência em 2016.
O ex-presidente também apresentou dificuldade para se lembrar de quando seu filho mais velho, Beau, morreu. “Em que mês Beau morreu?”, perguntou Biden antes de fazer uma pausa. “Meu Deus, 30 de maio…”, disse. Duas pessoas completaram a frase do então presidente: “2015”.
“Ele morreu em 2015?”, questionou Biden.
Em um segundo áudio, Biden, quando questionado se sabia que havia guardado um memorando relacionado ao Afeganistão, respondeu inicialmente: “Não sei se eu sabia”. Mas, quando pressionado, o ex-presidente respondeu: “Acho que queria guardá-lo apenas para a posteridade”.
Pouco depois, uma pessoa da equipe de Biden interrompeu e tentou esclarecer a resposta do presidente.
“Eu realmente gostaria de evitar, para manter a ficha limpa, entrar em áreas especulativas”, disse a pessoa, acrescentando: “Segundo meu entendimento, ele não se lembra especificamente de ter mantido este memorando intencionalmente depois de deixar a vice-presidência.”
Em fevereiro do ano passado, Hur se recusou a apresentar acusações contra Biden, mas em um relatório final disse que o ex-presidente “reteve e divulgou intencionalmente materiais confidenciais”.
A parte politicamente mais prejudicial das descobertas de Hur veio na caracterização do presidente como um “homem idoso e bem-intencionado com memória fraca”, alguém que provavelmente conquistaria o júri se enfrentasse um processo.
Biden e seus aliados contestaram a classificação de Hur e classificaram como imprecisa e injusta. Eles rejeitaram a alegação do procurador especial de que o ex-presidente não se lembrava de quando seu filho mais velho Beau morreu.
Os republicanos no Congresso buscaram registros relacionados à entrevista, incluindo transcrições e gravações de áudio, em uma longa investigação de impeachment contra Biden, que acabou fracassando.
O Departamento de Justiça americano forneceu uma transcrição da entrevista ao Congresso, mas Biden alegou privilégio executivo sobre as gravações de áudio.
Os republicanos votaram na Câmara e acusaram o então procurador-geral Merrick Garland por desacato por se recusar a entregar as gravações. Mas, o Departamento de Justiça se recusou a prosseguir com o caso.
Nesta sexta-feira, o presidente Donald Trump disse aos repórteres que a procuradora-geral Pam Bondi e sua equipe determinariam se o áudio deveria ser divulgado.
“Isso depende de Pam [Bondi] e do grupo. Eu realmente não investiguei”, disse ele antes de partir de Abu Dhabi. “Todos entendem a condição dele. Conheço pessoas de 89, 90, 92, 93 anos que são literalmente perfeitas. Mas Joe não era uma delas. Eles estavam apenas brincando. E, sabe, isso não pode ser feito. Nosso país está em jogo”, disse.
Os principais democratas, incluindo vários potenciais candidatos para 2028, têm enfrentado questionamentos sobre as novas revelações do próximo livro de Tapper e Thompson, incluindo se sabiam do declínio do ex-presidente dos EUA.
A nova rodada de questionamentos ocorre em um momento em que o partido está ansioso para superar as eleições de 2024 e se concentrar em travar uma oposição mais contundente a Trump.
A equipe de Biden refutou as alegações do livro. “Continuamos aguardando qualquer informação que mostre onde Joe Biden teve que tomar uma decisão presidencial, onde a segurança nacional foi ameaçada ou onde ele foi incapaz de exercer seu cargo. Na verdade, as evidências apontam para o oposto — ele foi um presidente muito eficaz”, disse um porta-voz de Biden à CNN.
Em uma entrevista no programa “The View” da ABC na semana passada, Biden, agora com 82 anos, defendeu seu mandato e rebateu as alegações de que sofreu declínio cognitivo significativo enquanto estava no cargo.
“Eles estão errados”, disse Biden na semana passada. “Não há nada que sustente isso”, complementou.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br