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Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), será transformada em memorial

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Publicado em 01/02/2024 – 09:57 Por Priscila Thereso – Repórter da Rádio Nacional – Rio de Janeiro

A Casa da Morte de Petrópolis, um dos principais centros clandestinos de tortura e assassinato da ditadura militar, vai ser transformada no Memorial de Liberdade, Verdade e Justiça. A primeira audiência do processo para a desapropriação do imóvel está marcada para esta quinta-feira, 1º de fevereiro. 

A ação foi protocolada na última semana pela prefeitura do município que fica na região Serrana do Rio de Janeiro. Segundo o secretário municipal de governo, Marcus São Thiago, as tentativas de desapropriação da Casa da Morte acontecem desde 2012, mas não deram certo por falta de verbas. Ele explica que a medida conta com apoio do Ministério dos Direitos Humanos, que fornecerá os recursos financeiros necessários para a conclusão do processo por meio de um convênio.

“Houve a disponibilidade de se conseguir uma venda que era uma coisa que a gente tentava muitos anos, verba com várias entidades, emendas parlamentares, tentar conseguir recurso para desapropriar a casa, né? Então o ministério se colocou agora à disposição para tentar viabilizar essa verba através de uma parceria de um convênio no intuito de direcionar a desapropriação municipal para criação de um centro de Memória, Verdade e Justiça naquele local.”

São Thiago diz que a indicação da prefeitura é que o Memorial seja gerido por uma instituição autônoma, para que não haja descontinuidade.

“A minha ideia é que ele possa ser eternizado com a gestão de uma instituição autônoma como uma universidade, né? Uma instituição voltada para pesquisa, para o resgate da história desses tempos sombrios, né? Foram muito difíceis para o nosso país e a gente tem que preservar a memória desses tempos sombrios para que as futuras gerações se apropriem das barbaridades que foram cometidas durante a ditadura e nunca mais permitam se repetir. Ou seja, que a democracia seja afrontada.”

O ministério dos Direitos Humanos indicou a Universidade Federal Fluminense para assumir a gestão do Memorial.

Nadine Borges, que presidiu a Comissão Estadual da Verdade do Rio, destaca a importância da transformação da Casa em Memorial.

“A gente vive num país em que o comando de esquecimento é a regra. O Brasil, desde a democratização, desde 1985 até hoje, 2024, nenhum governo teve a coragem de abrir os arquivos das Forças Armadas e revisar a Lei da Anistia. Enquanto essas duas coisas continuarem existindo, ainda estaremos anos-luz de respeitar o direito à memória, à verdade. Mas a ideia de memorial, a ideia de revelar para as novas gerações o que foi a ditadura, isso já é um primeiro passo, um passo importante, mas que precisa ir além. É preciso, sim, abrir os arquivos das Forças Armadas para a gente saber quem foram as pessoas que foram torturadas e desaparecidas.”

As atividades da Casa da Morte foram denunciadas por vítimas da ditadura e também aparecem em relatos de militares que confirmaram que o local era utilizado para a tortura e o assassinato de militantes políticos. Um deles foi o tenente-coronel reformado Paulo Malhães, conhecido pelo codinome de Dr. Diablo, que comandava o local, e confirmou à Comissão Nacional da Verdade as atrocidades cometidas. De todas as pessoas torturadas na casa, apenas uma sobreviveu, Inês Etienne Romeu, que passou mais de três meses aprisionada no centro clandestino.

Edição: Tâmara Freire/ Renata Batista

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