Quem saiu para trabalhar na última segunda-feira (6) — na prática, o primeiro dia útil do ano —, deve ter sentido uma sensação de desamparo ao deixar sua casa. Afinal, passadas as festas, 2025 se apresenta como uma retomada da rotina desgastante, cujo tsunami de tarefas muitas vezes nos paralisa antes mesmo de começar a solucioná-las.
E, embora escapar da rotina pareça impossível, algumas pesquisas psicológicas propõem que você pode transformá-la, simplesmente mudando sua mentalidade.
Em um artigo recente, publicado na plataforma The Conversation, a professora de filosofia Lorraine Besser, da Faculdade Middlebury, em Vermont nos EUA, falou sobre uma pesquisa desenvolvida com Shigehiro Oishi e seu laboratório de psicologia social.
Na pesquisa “A vida psicologicamente rica”, publicada na revista Philosophical Psychology em junho de 2020, Besser desenvolveu o conceito de riqueza psicológica, e pesquisou a diferença entre felicidade e propósito de vida.
“Uma vida psicologicamente rica pode ser contrastada com uma vida chata e monótona, na qual se sente uma emoção singular ou sente que suas vidas são definidas por rotinas que simplesmente não são tão interessantes”, diz o estudo.
Três estratégias para uma vida psicologicamente rica
A primeira estratégia apresentada por Besser e Oishi para adicionar riqueza psicológica à sua vida, tornando-a mais interessante, foi o que chamaram “mindfulness 2.0″, que é uma forma de se envolver com o ambiente de forma ativa. Uma maneira de fazer isso é perceber os detalhes que você normalmente ignora: “a textura das folhas de uma planta de casa, os rostos dos estranhos que passam por você na calçada, as diferentes alturas das latas na prateleira de uma loja”, diz Besser.
A segunda estratégia é cultivar a curiosidade, ou fazer perguntas. Ao fazer isso, asseguram os autores, “você cria novos pensamentos e, se deixar sua mente continuar explorando, terá uma experiência interessante”. Para os autores, ao fazer perguntas ingênuas, simples e espontâneas, você adquire uma habilidade que está sob seu controle, e aproveita essa capacidade para melhorar sua vida, sem sair do seu trajeto de sempre.
Finalmente, a terceira estratégia é exercer a criatividade, que, segundo o estudo, não é exclusiva dos artistas, mas sim uma habilidade universal que leva a novas conexões mentais. Ela se limita a usar coisas que você normalmente não usa, ou fazer escolhas que você geralmente não faz, como adotar um novo protetor de tela, por exemplo. Ou seja, pequenas mudanças criativas para acrescentar novidades à rotina.
Ressignificando a rotina
Em seu livro, “A arte do interessante: o que perdemos em nossa busca pela boa vida e como cultivá-la”, publicado em setembro de 2024, Besser mostra como adicionar riqueza psicológica às nossas vidas. Não se trata de um manual de instruções, mas sim de sugestões para transformar a rotina em oportunidades infinitas de experimentar o mundo como interessante.
Afinal, só você é capaz de desenvolver a capacidade de melhorar sua própria vida, alerta a autora. Isso porque a experiência que cada um tem sobre o que é verdadeiramente interessante é única. Por isso, atenção plena 2.0, mais curiosidade e criatividade não são opções finais, mas uma forma de treinar nossas mentes para se envolver, reagir e responder de forma a transformar qualquer experiência em algo interessante.
Não existem, portanto, experiências universalmente interessantes, pois o próprio conceito depende de como as nossas mentes se envolvem, reagem e respondem de forma criativa às situações.
A ideia, diz Besser, é converter qualquer experiência, por mais comum que seja, em algo significativo e envolvente.
Simples, porém transformador, esse é o poder que uma mentalidade pode trazer. A boa notícia é que essa capacidade de melhorar nossas vidas pode ser desenvolvida por qualquer pessoa, conclui o estudo.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br