É uma questão que está cada vez mais em evidência na agenda do futebol: maior é sempre melhor? Com competições domésticas, continentais e globais disputando espaço em um calendário cada vez mais lotado, preocupações com o bem-estar dos jogadores, o cabo de guerra entre clube e país e conflitos sobre o rumo do esporte nunca foram tão urgentes.
O premiado goleiro do Real Madrid é um dos jogadores que experimenta as demandas físicas e mentais do jogo em tempo real. Ele admite que não existe uma solução única para todos, mas diz que um contra-argumento direcionado à sua profissão precisa ser definitivamente encerrado.
“A desculpa de ‘você ganha muito dinheiro‘ precisa acabar”, disse o Courtois à Amanda Davies, do CNN Esportes, após ganhar o Prêmio Carreira no recente Globe Soccer Awards em Dubai, Emirados Árabes Unidos. “Você também pode ganhar dinheiro jogando 10 jogos a menos. Não é que existam muitos jogos… Sinto que o problema é que temos falta de descanso.”
Calendário achatado
O ponto de ebulição foi atingido no início deste ano quando sindicatos que representam jogadores de futebol lançaram um desafio legal contra a decisão “unilateral” da FIFA de estabelecer o calendário internacional de partidas – notadamente uma Copa do Mundo expandida para 32 equipes.
Os sindicatos dizem que a competição, programada para acontecer nos Estados Unidos no próximo ano de meados de junho a meados de julho, infringe o direito dos jogadores a uma pausa anual, violando a Carta dos Direitos Fundamentais da UE (CFREU) “sem qualquer justificativa séria”.
Em seu discurso de abertura no 74º Congresso da FIFA em Bangkok em maio deste ano, ele insistiu que o órgão regulador do futebol mundial está “financiando o futebol em todo o mundo”.
“As receitas que geramos não vão apenas para alguns clubes em um país, as receitas que geramos vão para 211 países em todo o mundo. Não há outra organização que faça isso”, acrescentou.
“Não, não acho”, diz ele. “A FIFPRO está tentando proteger os jogadores (…) mas acho que outros órgãos reguladores não pensam nisso. Este Mundial de Clubes é algo que precisa existir, mas é difícil encontrar a maneira certa de fazê-lo. Acho que os clubes querem ajudar, mas todos seguimos as regras e o calendário que nos é dado.”
NBA
Então, qual é uma solução viável para o atual dilema do calendário? Para Courtois, o número de jogos não é necessariamente o problema, mas sim o intervalo entre as temporadas. Um ávido fã de basquete, o jogador de 32 anos vê a NBA como um potencial ponto de referência.
A liga dominante de basquete do mundo tem uma programação exigente por oito meses – com 82 jogos na temporada regular antes dos playoffs, onde uma equipe pode potencialmente jogar 28 jogos – do ano, mas compensa isso com um período significativo de descanso para seus jogadores.
“Acho que os jogadores (de futebol) não se importariam em jogar nove meses sem parar com preparação adequada e gerenciamento de carga”, diz ele.
“Se você tiver dois meses de folga no verão, como a NBA, você pode descansar seu corpo por um mês e treinar por um mês. As pessoas estarão mais prontas para fazer nove meses completos. Quando você não descansa, é quando todas as lesões se acumulam.”
“Este ano é o Mundial de Clubes, depois no próximo ano é a Copa do Mundo, então no ano seguinte é outra coisa, então não há descanso para os jogadores.”
De fato, o goleiro do Real Madrid conhece muito bem o preço da congestão de jogos. O belga retornou de uma ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA) em março deste ano, que o manteve afastado por nove meses, mas sofreu várias lesões desde então.
“Jude (Bellingham) e Dani (Carvajal) jogaram até 14 de julho e, então em 1º de agosto, estavam treinando em Madrid, e em 8 de agosto, jogaram a Supercopa da UEFA. Se você explicar isso para pessoas na América com NBA, NFL, eles não vão entender. Se você joga em um time que joga uma vez por semana, você não entende esse problema do calendário porque você tem um jogo todo sábado e lida com isso e é assim que é… mas para nós, jogadores de alto nível, é diferente. No outro dia eu estava rindo com (Federico) Valverde”
Eu disse: “Suas próximas férias serão em 2027″. Você sabe o quão louco isso soa!”
FIFA discorda
Quando contatada pela CNN para comentar, a FIFA apontou para o discurso de Infantino em Bangkok em maio, no qual ele disse: “A FIFA organiza cerca de 1% – 1% dos jogos dos principais clubes do mundo – 1%. Quando se trata das seleções nacionais, é muito, muito similar, é verdade.”
“Aumentamos o número de participantes para a Copa do Mundo (FIFA), mas ainda é um mês a cada 48 meses,” continuou ele. “Então, espero – espero – que esses números que todos vocês podem, é claro, verificar e calcular, mostrem que provavelmente devemos parar com esse debate fútil, que é realmente sem sentido, e focar no que temos que fazer, em qual é nossa missão, que é organizar eventos e competições, e desenvolver o futebol ao redor do mundo porque 70% de vocês, das Associações Membro da FIFA, não teriam futebol sem os recursos vindos diretamente da FIFA.”
Fonte: www.cnnbrasil.com.br
