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Marília

CRÍTICA LITERÁRIA: O TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, POR LUIZ ASTS

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“Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, bateu em casa às quatro e quinze da tarde. Havia mais de vinte anos que isso acontecia. Saindo do Arsenal de Guerra, onde era subsecretário, bongava pelas confeitarias algumas frutas, comprava um queijo, às vezes, e sempre o pão da padaria francesa.”

Policarpo Quaresma ama o Brasil. Ama porque é a terra mais fértil do mundo, porque tem a fauna e a flora mais lindas e exuberantes, porque é a cultura mais rica, a melhor comida, em variedade e sabores, porque possui as mulheres mais belas e, segundo ele, até mesmo… os melhores governantes.

Funcionário público, fluente em tupi, estudioso da cultura indígena e grande apreciador das modinhas de violão ― para ele, o único estilo de música verdadeiramente nacional ―, Policarpo, como Dom Quixote de La Mancha, enfrenta moinhos de vento para provar a todos o seu ponto de vista, bradar ao mundo o amor por sua musa, não a Srta. Dulcineia de Toboso, por quem nutria um afeto profundo, mas a sua amada pátria brasileira. Mas, afinal, que fim poderia ter a aventura de Policarpo?

Através de personagens vívidos e situações hilárias e trágicas ao mesmo tempo, o autor Lima Barreto constrói uma narrativa que cativa o leitor enquanto faz uma reflexão profunda sobre a sociedade brasileira.

A história se passa na época do governo do Marechal Floriano Peixoto, após a Proclamação da República em 1889 e é repleta de personagens fortes e carismáticos, tendo como personagem principal um nacionalista apaixonado pelo Brasil e pela cultura nacional. Lima Barreto prestigia o leitor com um personagem profundamente idealista, que sonha em ver o seu país prosperar e preservar suas tradições. No entanto, sua paixão desmedida o leva à alienação e ao ridículo aos olhos da sociedade. Outros personagens, como seu amigo e médico Dr. Siqueira, e sua amiga Olga, também são bem desenvolvidos, cada um representando diferentes facetas da sociedade da época.

Sendo excessivamente idealista, Policarpo inicia um projeto para transformar o país, propondo, por exemplo, a adoção do tupi-guarani como língua oficial e a valorização da cultura nacional. No entanto, suas tentativas de mudança são ridicularizadas e ele acaba sendo considerado louco.

“O Triste Fim de Policarpo Quaresma” é uma crítica contundente e perspicaz da sociedade brasileira. Através da trajetória do protagonista, Lima Barreto critica a alienação patriótica, mostrando como o excesso de idealismo pode levar à marginalização e à loucura. O autor aborda questões sociais e raciais, revelando a profunda desigualdade e discriminação que permeiam a sociedade brasileira da época. A crítica de Lima Barreto se estende também ao sistema educacional, à burocracia e à corrupção, temas que permanecem relevantes até os dias de hoje.

A linguagem de Lima Barreto é afiada e mordaz, repleta de ironia e sarcasmo, o que contribui para a força da crítica social presente na obra. Através dos seus personagens vívidos e das situações hilárias e trágicas ao mesmo tempo, o autor constrói uma narrativa que cativa o leitor do início ao fim, enquanto faz uma reflexão profunda sobre a sociedade brasileira.

A obra é, portanto, não apenas um romance, mas uma análise perspicaz e atemporal da natureza humana e da sociedade. É uma leitura indispensável para quem deseja compreender as nuances da sociedade brasileira e apreciar a genialidade do autor na exposição dessas questões.

“O Triste Fim de Policarpo Quaresma” foi publicado pela primeira vez em folhetins no ano de 1911, refletindo a conturbada transição do Brasil da monarquia para a república. A obra é uma sátira mordaz sobre a sociedade e a política da época.

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Sobre o autor:

Lima Barreto, nascido em 1881 no Rio de Janeiro, foi um escritor e jornalista brasileiro, conhecido por suas críticas sociais e políticas.

Filho de pais negros, cresceu em uma família de classe média baixa. Seu pai era tipógrafo, e sua mãe, professora. Desde cedo, Lima Barreto teve contato com a literatura devido à vasta biblioteca de seu pai.

A situação financeira de sua família era instável, e isso afetou seus estudos, mas apesar de não ter concluído o ensino formal, Lima Barreto estudou sozinho diversas disciplinas, incluindo línguas estrangeiras como francês e inglês, e dedicou-se à leitura de obras clássicas da literatura mundial. Seu interesse pela escrita levou-o a iniciar a carreira jornalística, trabalhando em diversos jornais e revistas ao longo de sua vida. Foi um crítico social e político ferrenho e enfrentou dificuldades e preconceitos ao longo de sua vida devido à sua origem étnica e à sua posição como escritor marginalizado. Suas experiências pessoais e sua visão crítica da realidade brasileira influenciaram profundamente sua escrita.

Lima Barreto é autor de diversas obras importantes, incluindo romances, contos e crônicas. Alguns de seus trabalhos mais conhecidos incluem “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, “Clara dos Anjos” e “Memórias do Escrivão Isaías Caminha”. Sua escrita é marcada pelo realismo, pelo sarcasmo e pela crítica contundente às injustiças sociais. Seus livros continuam sendo traduzidos para várias línguas e são lidos em todo o mundo, proporcionando aos leitores uma visão perspicaz da sociedade e da condição humana. Sua capacidade de explorar questões sociais e políticas de forma tão profunda e eloquente faz dele um dos escritores mais importantes da literatura brasileira, e suas obras permanecem atemporais, oferecendo uma reflexão valiosa para as gerações presentes e futuras.

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