No dia 20 de janeiro, o santo São Sebastião é celebrado pela Igreja Católica. No Candomblé e na Umbanda, religiões de matriz afro-brasileiras, comemora-se o Dia de Oxóssi, orixá das matas, rei do Ketu (Nação de Candomblé) e guerreiro com fama de acertar seus alvos com uma flecha só.
No sincretismo religioso, usado como tática pelos povos escravizados para continuar a cultuar as divindades africanas sem represálias pelo cristianismo, o orixá é comparado aos santos católicos São Sebastião, na maior parte do Brasil, e São Jorge, na Bahia.
Associado à caça, à fartura e proteção, Oxóssi é chefe da falange dos caboclos, guias espirituais que trabalham incorporados em seus médiuns em atividades de cura, limpeza corpórea e quebra de magia.
Em contato com Solange Ciavatta, sacerdotisa de religião afro-brasileira, de 58 anos, que também é comunicóloga, pesquisadora de ervas e plantas no uso sagrado de pajés de diferentes povos originários do Brasil e dos Estados Unidos, a CNN descobriu as principais características e curiosidades deste orixá famoso pela proteção das matas e dos animais.
Cores e símbolos
Oxóssi é representado pela cor verde escuro, em associação às florestas, também podendo ser retratado pelo tom azul-turquesa, em algumas tradições.
Os principais símbolos de Oxóssi são:
- Ofá (arco) e Damatá (flecha), ferramentas que personificam o arco e flecha e representam a precisão, a agilidade, o olhar aguçado e o foco.
- Erukeré, uma espécie de espanador com a finalidade de espantar eguns (espíritos).
- Adornos na cabeça, podendo ser um chapéu ou um cocar.
- Elementos: Terra e Ar.
- Guias e vestimentas que evidenciam a força e seu arquétipo de guerreiro.
- Saudação: Okê Arô e Arolé.
Características de Oxóssi
A representação de Oxóssi vai além da já mencionada personalidade e de guardião. Quem o busca, também está atrás de outras características peculiares do orixá como:
- Sabedoria e astúcia: o orixá simboliza o conhecimento, a inteligência estratégica e a habilidade de enxergar além do óbvio. Tanto é que, no terreiro, quando o consulente está atrás de mudanças no campo profissional, pode ser receitado um banho de Oxóssi.
- Protetor, guia e encorajador: o guerreiro guia e acolhe aqueles que estão em busca de aprendizado, crescimento pessoal e novos horizontes. Oxóssi os deixa em pé prontos para enfrentar as batalhas da vida.
- Provedor da fartura e sustento: é o orixá associado à prosperidade, à abundância de alimentos e à garantia de que não falte o necessário para o bem-estar de quem o cultua.
- Solitário e observador: Oxóssi é lembrado também por sua agilidade, sendo um grade estrategista e que faz tudo de forma silenciosa, qualidades essenciais para um caçador.
“Dessa forma, podemos ver que Oxóssi é caçador nato, buscando prover o sustento com suas caçadas, trazendo a carne, além de ser conhecedor das propriedades das plantas”, comenta a profissional.
Dia da semana e principais oferendas
Quem deseja realizar uma oferenda ao orixá pode fazê-lo na quinta-feira, seu dia da semana. Para colocar frutas, milho, sementes, grãos e demais alimentos para o rei das matas, deve-se usar, preferencialmente, folhas para forrar o chão, alternativa sustentável ao tradicional alguidar de barro.
Mitos de Oxóssi
Conta-se que Oxóssi é filho de filho de Iemanjá e irmão de Ogum. Em algum dos diversos Itãns (mitos e lendas das religiões de afro-brasileiras) existentes, ele teria sido raptado por Ossain.
Ossain teria levado Oxóssi para viver com ele na floresta, onde o jovem aprendeu os mistérios das ervas, da cura e da conexão com a natureza. Sob sua tutela, pôde desenvolver suas habilidades como caçador, protetor das matas e conhecedor das forças naturais.
Tempos depois, Ogum consegue resgatar Oxóssi, mas Iemanjá, magoada por ter proibido seu filho de ir à mata, não perdoou a desobediência e recusou recebê-lo de volta.
Oxóssi, então, retorna às florestas, tornando-se aliado de Ossain e compartilhando o domínio sobre os segredos da natureza.
“Há outro mito que diz que a cidade onde ele esteve exercendo o seu reinado foi dizimada. E, sendo assim, ele não foi mais cultuado na África. Portanto, os povos que o reverenciavam foram trazidos escravizados ao Brasil. Dessa forma, ele passa a ser muito cultuado por aqui”, diz Solange
Essa história, como tantas outras, refletem a coragem, independência e conexão do orixá com a floresta, além de seu papel como protetor e provedor.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br