19.5 C
Marília

Entenda os principais pontos do plano de Trump para “assumir“ Gaza

Leia também

O presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu se reuniram na Casa Branca na terça-feira (4) e falaram sobre os projetos para o futuro da Faixa de Gaza.

Durante o discurso, Trump expôs um plano para os EUA “assumirem” Gaza, realocarem palestinos para países vizinhos e reconstruírem o território devastado pela guerra no que ele descreveu como a “Riviera do Oriente Médio”.

Os comentários de Trump rompem com décadas de política externa dos EUA, que há muito tempo enfatiza uma solução de dois Estados para Israel e Palestina, assim como a cautela antiga do republicano sobre a intervenção dos EUA no Oriente Médio.

Aqui está o que sabemos sobre a visão de Trump para Gaza — território que abriga cerca de dois milhões de palestinos — incluindo até que ponto a proposta é viável.

Trump disse que os EUA vão “assumir o controle” e “possuir” Gaza a longo prazo

“Os EUA vão assumir o controle da Faixa de Gaza e faremos um trabalho com isso também”, anunciou Trump, revelando o que chamou de “propriedade a longo prazo” e plano de reconstrução para o território, grande parte do qual foi reduzido a escombros após 15 meses de guerra entre Israel e o Hamas.

Os ataques aéreos israelenses danificaram ou destruíram cerca de 60% dos edifícios, incluindo escolas e hospitais, e cerca de 92% das casas, segundo as Nações Unidas.

“Nós seremos donos e seremos responsáveis ​​por desmantelar todas as bombas perigosas não detonadas e outras armas no local, nivelar o local e nos livrar dos edifícios destruídos”, afirmou o presidente americano na terça-feira (4).

Trump não descartou o envio de tropas dos EUA, falando “no que diz respeito a Gaza, faremos o que for necessário”.

Não está claro como exatamente a apropriação de terras proposta por Trump funcionaria, e analistas lançaram dúvidas sobre a viabilidade de seu plano.

“Não há mecanismo para isso. Não há precedente para isso”, disse à CNN a ex-diretora adjunta de inteligência nacional Beth Sanner, que serviu nas administrações Trump e Biden, na terça-feira (4).

A maioria dos dois milhões de pessoas que vivem em Gaza não vai querer sair, explicou Sanner, levantando a questão se elas poderiam ser removidas à força — o que é proibido pela lei internacional.

“Isso significa que alguém, talvez os Estados Unidos”, teria que intervir — porque “nenhum Exército árabe vai transportar pessoas contra sua vontade para fora de sua terra natal”, acrescentou Sanner.

A visão de Trump para Gaza não tem aceitação dos palestinos

O plano do presidente americano vai contra as aspirações dos palestinos, que há muito tempo defendem a criação de um Estado. Os habitantes rejeitaram categoricamente a proposta de realocação de Trump quando ele a apresentou pela primeira vez, duas semanas atrás.

Já existem cerca de 5,9 milhões de refugiados palestinos em todo o mundo, a maioria deles descendentes de pessoas que fugiram com a criação de Israel em 1948.

Metade da população de Gaza já era formada por refugiados de fora da faixa costeira.

Aproximadamente 90% dos moradores de Gaza foram deslocados na última guerra, e muitos foram forçados a se mudar repetidamente, alguns mais de 10 vezes, segundo a ONU.

Trump rejeitou a ideia de que os palestinos deslocados iriam querem retornar a Gaza, descrevendo-a como um “símbolo de morte e destruição”.

“Por que eles iriam querer retornar? O lugar tem sido um inferno”, disse Trump, enquanto um repórter que gritava: “Porque é o lar deles”.

Em vez de Gaza, Trump sugeriu que os palestinos recebessem um “bom, fresco e belo pedaço de terra” para viver.

Dezenas de milhares de palestinos caminharam por horas para retornar às suas casas bombardeadas em Gaza depois que um cessar-fogo entrou em vigor no final de janeiro.

Imagens de drones mostram milhares de palestinos deslocados retornando ao norte de Gaza • Reprodução/Reuters

“Estamos esperando por este dia há tanto tempo”, falou Nadia Qassem, do Campo de Refugiados de Al-Shati, à CNN na época. “Queremos voltar para casa. Mesmo que minha casa esteja destruída. Sinto falta da minha terra e do meu lugar.”

Um oficial do Hamas chamou o plano de Trump de “receita para criar o caos.”

“Nosso povo na Faixa de Gaza não permitirá que esses planos passem, e o que é necessário é acabar com a ocupação e a agressão contra nosso povo, não expulsá-los de suas terras”, falou o porta-voz do grupo Sami Abu Zuhri na terça-feira (4).

Quando perguntado se apoia a reivindicação de Israel à Cisjordânia ocupada, que abriga mais de três milhões de palestinos e é cobiçada por radicais de ultradireita em Israel, Trump disse “ainda não tomamos uma posição sobre isso”, mas falou que um anúncio seria feito em breve.

Uma mudança não seria sem precedentes. Durante seu primeiro mandato, Trump rompeu com décadas de política externa dos EUA ao reconhecer a soberania israelense sobre as Colinas de Golã ocupadas.

Ele também reconheceu Jerusalém como a capital de Israel, mudando a Embaixada dos EUA para lá.

Trump vê Gaza como uma oportunidade imobiliária

O conflito israelense-palestino tem sido um dos problemas mais intratáveis ​​do Oriente Médio, mas o republicano o retratou como uma oportunidade de negócios.

O “potencial na Faixa de Gaza é inacreditável” e que território pode se tornar a “Riviera do Oriente Médio”, afirmou Trump.

“Temos uma oportunidade de fazer algo que pode ser fenomenal. E eu não quero ser fofo, não quero ser um cara esperto, mas a Riviera do Oriente Médio, isso pode ser algo que pode ser tão — isso pode ser tão magnífico”, falou Trump aos repórteres.

Questionado sobre quem imagina vivendo em Gaza, Trump disse: “Eu imagino as pessoas do mundo vivendo lá. As pessoas do mundo. Acho que vocês farão disso um lugar internacional e inacreditável”, afirmou.

O presidente também comentou que planeja visitar Gaza em breve.

No mês passado, Trump elogiou Gaza como possuindo uma “localização fenomenal, no mar e o melhor clima”.

O enviado especial de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, também é um incorporador imobiliário.

Witkoff viajou para Gaza na semana passada, tornando-se o primeiro alto funcionário dos EUA conhecido por visitar a região em anos.

Steve Witkoff, enviado de Trump para o Oriente Médio.
Steve Witkoff, enviado de Trump para o Oriente Médio. • REUTERS

A proposta de Trump é vista como boa pela ultradireita de Israel

A ultradireita de Israel há muito tempo apoia a ideia de expulsar os palestinos de Gaza e da Cisjordânia, e os legisladores acolheram os comentários de Trump sobre assumir o controle da faixa.

O líder do partido Poder Judaico, Itamar Ben Gvir, que renunciou ao cargo de ministro da Segurança Nacional no mês passado em protesto contra o cessar-fogo de Gaza e o acordo de libertação de reféns, pediu a Netanyahu que adotasse o plano de Trump em uma declaração ao X na quarta-feira (5).

“Agora está claro: esta é a única solução para o problema de Gaza — esta é a estratégia para o dia seguinte”, afirmou Ben Gvir.

Embora o governo de Israel tenha rejeitado anteriormente as alegações de que planeja forçar os palestinos a saírem de Gaza, Netanyahu expressou apoio à visão de Trump.

Apontando para o objetivo de guerra de Israel para garantir que Gaza não represente uma ameaça ao país. Netanyahu disse: “O presidente Trump está levando isso a um nível muito mais alto. Ele vê um futuro diferente para aquele pedaço de terra que tem sido o foco de tanto terrorismo.”

O líder israelense falou que a ideia de Trump pode “mudar a história” e que “vale a pena realmente seguir esse caminho.”

Netanyahu diz que acredita que Trump ajudará Israel a atingir todos os seus objetivos de guerra • POOL

Trump afirmou que seu plano tem amplo apoio, mas nações árabes dizem que não é possível

Trump comentou a repórteres que “todos (com quem ele) falou amam a ideia dos Estados Unidos possuírem aquele pedaço de terra” e que ele esperava que a Jordânia e o Egito acolhessem os palestinos forçados a sair.

Mas as nações árabes há muito rejeitam qualquer deslocamento forçado de palestinos de Gaza, o que os críticos argumentam que se assemelharia a uma limpeza étnica.

Em uma declaração na quarta-feira (5) após a entrevista coletiva de Trump e Netanyahu, a Arábia Saudita afirmou seu apoio “inabalável” a um estado palestino e exigiu o fim da ocupação israelense.

“Alcançar uma paz duradoura e justa é impossível sem que o povo palestino obtenha seus direitos legítimos de acordo com as resoluções internacionais, como foi esclarecido anteriormente para as administrações anteriores e atuais dos EUA”, falou o Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita em uma declaração às mídias sociais.

Arábia Saudita, Jordânia, Egito e outros aliados árabes emitiram uma declaração na semana passada reafirmando seu desejo de longa data por uma solução de dois Estados e prometendo o “apoio total e contínuo à firmeza do povo palestino em suas terras”.

Parlamentares não estão entusiasmados com a ideia — pelo menos por enquanto

Os comentários de Trump atraíram críticas e ceticismo dos legisladores, incluindo alguns republicanos.

O senador republicano da Carolina do Sul, Lindsey Graham, chamou isso de uma “proposta interessante”, mas também “problemática”.

“Veremos o que nossos amigos árabes dizem sobre isso. Acho que a maioria dos moradores da Carolina do Sul provavelmente não ficaria animada em enviar americanos para assumir Gaza. Acho que isso pode ser problemático. Mas vou manter a mente aberta”, afirmou Graham.

A senadora de New Hampshire, Jeanne Shaheen, a principal democrata no Comitê de Relações Exteriores, falou que a ideia “falha em reconhecer a necessidade de ter um Estado Palestino e o fato de que, até que abordemos as preocupações dos palestinos, continuará tendo conflito na região”.

O senador Chris Coons, outro membro democrata importante do comitê, falou que o plano de Trump é “entre ofensivo e insano e perigoso e tolo”.

Fonte: www.cnnbrasil.com.br

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

spot_img
spot_img

Últimas notícias