O fechamento do aeroporto de Heathrow, em Londres, deve afetar o sistema de aviação global por dias e custar prejuízo de dezenas de milhões de dólares, dizem especialistas, levantando questões sobre por que um melhor planejamento de contingência não estava em vigor no quinto maior aeroporto do mundo.
Os especialistas ficaram chocados com a escala da interrupção –a maior desde a nuvem de cinzas islandesa de 2010– enquanto tentavam estimar o custo e a amplitude das repercussões causadas por um incêndio em uma subestação elétrica próxima que cortou o fornecimento de energia do aeroporto e sua energia de reserva.
“É uma falha clara de planejamento do aeroporto”, disse Willie Walsh, diretor-geral da IATA (Associação Internacional de Transportes Aéreos, na tradução para o português). Ele, que, é ex-chefe da British Airways, é um crítico do fato de o aeroporto ser tão lotado.
Heathrow é o aeroporto mais movimentado da Europa em termos de número de passageiros voando para dentro e para fora a cada dia, de acordo com a empresa de dados OAG. Todos os 1.332 voos programados de sexta-feira foram cancelados.
O incêndio, que foi relatado na noite de quinta-feira (21), forçou os aviões a desviarem para aeroportos na Grã-Bretanha e na Europa, com muitos voos de longa distância simplesmente retornando ao seu ponto de partida.
O fechamento ocorre menos de um ano depois que Heathrow disse à Autoridade de Aviação Civil da Grã-Bretanha em um processo que era “líder em resiliência de aeródromos”.
Mas vários especialistas apontaram para uma potencial fraqueza em seus planos de contingência.
O consultor de viagens Paul Charles disse que o fechamento de Heathrow pode custar ao setor de aviação cerca de 20 milhões de libras (US$ 26 milhões) por dia, sem garantia de que o aeroporto reabriria no sábado.
“Heathrow é uma parte tão vital da infraestrutura do Reino Unido que deveria ter sistemas à prova de falhas”, acrescentou.
Tony Cox, um consultor internacional de gerenciamento de risco, disse: “Não consigo me lembrar de uma parte da infraestrutura crítica sendo totalmente fechada por pelo menos um dia por causa de um incêndio. Não consigo pensar em nada comparável.”
O caos também expôs a potencial vulnerabilidade da infraestrutura crítica em um momento em que a segurança subiu ao topo da agenda europeia.
A polícia britânica disse que os agentes antiterrorismo estavam investigando, mas não havia nenhuma indicação inicial de crime no incêndio da subestação.
O ministro da Energia, Ed Miliband, disse que o incêndio desativou a energia de reserva e que os engenheiros estavam trabalhando para implantar uma terceira fonte.
Como a maioria dos grandes aeroportos, Heathrow tem o que é chamado de plano de resiliência operacional, que visa identificar riscos que podem atrapalhar as operações. Não ficou imediatamente claro, no entanto, se a energia de reserva foi apontada como uma vulnerabilidade potencial.
Em 2023, Heathrow concluiu uma nova estratégia de energia, prometendo mais energia renovável “enquanto protegia a resiliência de nossa rede de energia”, de acordo com seu último relatório anual.
A administração do aeroporto de Heathrow não respondeu às solicitações de comentários sobre o planejamento de contingência.
Impactos
O fechamento deve ter efeitos colaterais de vários dias em todo o mundo, deixando muitos passageiros presos enquanto as transportadoras reconfiguram suas redes para movimentar aviões e tripulações.
A British Airways alertou no passado que Heathrow está tão sobrecarregado que se recuperar de uma interrupção pode causar ainda mais caos, pois os aviões e a equipe devem ser reposicionados adequadamente, mesmo com a instalação operando em capacidade máxima.
“Haverá impacto na operação em vários dias, porque uma vez que as aeronaves são estacionadas em algum lugar longe de uma operação, elas ficam presas lá com as tripulações operando os voos”, disse o consultor de aviação e especialista em planejamento de rede John Strickland.
O espaço aéreo da Grã-Bretanha está entre os mais movimentados da Europa, e interrupções técnicas levantaram preocupações no passado.
Uma interrupção do sistema de controle de tráfego aéreo da Grã-Bretanha em 2023 custou mais de 100 milhões de libras.
Tim Green, chefe do departamento de engenharia elétrica e eletrônica do Imperial College, em Londres, viu seu voo com destino ao Reino Unido forçado a retornar para a Carolina do Norte na sexta-feira.
Em declarações à Reuters, ele descreveu as complexas artérias que alimentam Heathrow, que consumiram 271.080 MWh de eletricidade da rede em 2023, de acordo com seu relatório anual.
“Há muita coisa acontecendo em um aeroporto”, disse ele.
Heathrow deve fornecer energia para lojas, restaurantes, espaços públicos e iluminação de emergência, disse ele, enquanto uma categoria separada de fornecimento de eletricidade alimenta sistemas de segurança como radares, equipamentos de navegação e luzes de pouso.
“Parte disso, é claro, será apoiada por geradores de emergência. Mas acho que o aeroporto prefere encerrar algumas de suas operações do que aceitar mais aeronaves quando está em um estado comprometido como esse”, disse Green.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br