O relatório da Polícia Federal (PF) contra dois deputados federais e um suplente por suposta “comercialização” no envio de emendas parlamentares aponta que houve ameaças a prefeitos do interior do Maranhão e que o esquema ocorre há pelo menos cinco anos com dinheiro público.
“No topo da organização estão os representantes políticos, a saber, os deputados Josimar Maranhãozinho, Pastor Gil e Bosco Costa”, diz a PF no documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Os três são do PL.
Os investigadores concluíram que Josimar era o líder e, nessa posição, controlava a destinação de suas emendas e também as dos demais deputados.
As investigações começaram em 2020 quando o então prefeito de São José do Ribamar (MA), Eudes Sampaio, resolveu denunciar uma cobrança de 25% do valor de emendas que o município recebeu para a saúde.
Sampaio contou à Polícia Federal que foi procurado por um agiota conhecido como Pacovan e que esse o estaria extorquindo em nome do grupo. A PF encontrou mensagens e áudios no celular do agiota com o deputado que apontam a ligação, além das conversas entre os parlamentares discutindo o esquema.
A PF detalha, também, que alguns prefeitos eram resistentes a aceitar o pagamento de propina pelo agiota em troca de emendas aos municípios. Dessa forma, os parlamentares entrariam em campo, segundo a polícia.
“A partir de então, os deputados federais Josimar Maranhãozinho e Pastor Gil passam a agir pessoalmente para convencer o prefeito”, diz.
Em outra situação, a Polícia Federal diz que alguns prefeitos “fugiam de medo” e em uma troca de mensagens Pastor Gil relatou o fato a Josimar Maranhãozinho que um prefeito não ‘fecharia negócio: “esse cara não quer acertar nada”.
Em um áudio enviado pelo agiota ao deputado, Pacovan afirma que algum outro político estaria reivindicando a negociação das emendas à saúde do município e que, por isso, o prefeito Eudes Sampaio estaria se negando a pagá-los.
Afirma, ainda nas mensagens, que o grupo deveria expor um outro prefeito: “quer desmascarar esse cara” e que “ele vai pegar uma bala na cara” [ameaça de morte]. Para a PF, o áudio é uma demonstração do grau de periculosidade do grupo.
Os investigadores apontam que o grupo teria cometido diversos crimes, como associação criminosa, corrupção, estelionato e extorsão.
Os três políticos foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Segundo a denúncia da PGR, o grupo pediu R$ 1,66 milhão em propina ao então prefeito de São José do Ribamar (MA) para enviar uma emenda de quase R$ 7 milhões ao município. A PF flagrou as tratativas a partir da interceptação telefônica.
Em defesas prévias, os investigados argumentaram que a denúncia “sofre de inépcia, pois não descreve as condutas criminosas, o liame subjetivo entre os denunciados e nem a autoria das emendas parlamentares”.
A defesa do Pastor Gil disse à CNN que vai se manifestar apenas no processo.
A CNN busca contato com as defesas dos outros dois denunciados.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br