Um fóssil de crânio quase completo encontrado na Antártida revelou a ave moderna mais antiga conhecida — uma criatura do tamanho de um pato-real relacionada às aves aquáticas que vivem hoje próximas a lagos e oceanos, segundo um novo estudo.
O fóssil de 68 milhões de anos pertence a uma espécie extinta de ave conhecida como Vegavis iaai que viveu no final do período Cretáceo, quando o Tyrannosaurus rex dominava a América do Norte e pouco antes de um asteroide do tamanho de uma cidade atingir a Terra, condenando os dinossauros à extinção.
As aves que viviam entre os dinossauros eram praticamente irreconhecíveis quando comparadas com as espécies atuais. Muitas exibiam características bizarras como bicos dentados e longas caudas ósseas.
Vegavis, no entanto, teria o tamanho de um pato e seria ecologicamente semelhante a espécies de aves aquáticas como os mergulhões, disse Christopher Torres, professor assistente de biologia da Universidade do Pacífico na Califórnia e autor principal do estudo publicado na quarta-feira (5) na revista Nature.
“Esta ave era um mergulhador propulsionado pelos pés. Usava suas pernas para se propulsionar debaixo d’água enquanto nadava, e algo que pudemos observar diretamente deste novo crânio foi que tinha uma musculatura mandibular associada ao fechamento da boca debaixo d”água na perseguição de peixes. E esse é um estilo de vida que observamos amplamente entre mergulhões e mergulhões-caçadores”, disse ele.
Os paleontólogos descreveram pela primeira vez o Vegavis há 20 anos, mas muitos eram céticos quanto ao fato de representar uma espécie de ave moderna ou coroa. A maioria dos fósseis de aves modernas que haviam sido descobertos até então datavam de após o asteroide que matou os dinossauros ter atingido a costa do que é hoje o México, há 66 milhões de anos. Muitos cientistas presumiam que as aves de aparência moderna começaram a evoluir depois e talvez em resposta à extinção em massa.
Os espécimes fósseis anteriores de Vegavis também não possuíam um crânio completo, disse o coautor do estudo Patrick O”Connor, professor de ciências anatômicas da Universidade de Ohio. Os crânios são onde as características mais distintivas das aves modernas, como a ausência de dentes e um osso pré-maxilar aumentado no bico superior, podem ser identificadas.
O fóssil examinado no estudo, coletado durante uma expedição em 2011 pelo Projeto de Paleontologia da Península Antártica, foi encontrado encapsulado em rocha que datava de 68,4 a 69,2 milhões de anos e exibia características modernas, como um bico sem dentes, segundo o estudo.
“O novo fóssil mostra que Vegavis é indubitavelmente uma ave moderna (algo que foi questionado no passado) e é uma descoberta excepcional que preserva uma morfologia estranha e surpreendente”, disse Juan Benito Moreno, pesquisador do departamento de ciências da Terra da Universidade de Cambridge e especialista em aves fósseis, por e-mail.
“O novo crânio de Vegavis mostra uma morfologia muito especializada para mergulho e alimentação de peixes, mais do que eu esperaria”, acrescentou Moreno, que não participou do estudo, mas esteve envolvido na descoberta da única outra espécie conhecida de ave moderna do Cretáceo.
Um sobrevivente de extinção em massa?
A forma do cérebro revelada pelo novo fóssil, que os pesquisadores escanearam usando tomografia computadorizada para criar uma reconstrução tridimensional, também era característica das aves modernas, segundo o estudo.
Juntas, essas características colocam Vegavis no grupo que inclui todas as aves modernas, e o crânio fóssil representa “o membro mais antigo de toda esta radiação que vemos ao nosso redor hoje, que consiste em 11.000 espécies de aves”, disse O’Connor.
Embora Vegavis se assemelhasse às aves aquáticas atuais em alguns aspectos, outras características não se encaixavam no padrão. Por exemplo, o estudo observou que o crânio preserva traços de um bico fino e pontiagudo movido por músculos mandibulares reforçados, uma característica que é mais semelhante às aves mergulhadoras do que outras aves aquáticas conhecidas.
“A Antártida há 69 milhões de anos não se parecia com hoje. Era, na verdade, florestada. Era um clima temperado frio com base na maioria de nossos modelos, e este animal, nós o recuperamos em uma unidade rochosa marinha, então imaginamos que ele estava fazendo este mergulho de perseguição em um ambiente marinho costeiro”, acrescentou O’Connor.
Torres, que era pesquisador de pós-doutorado estudando paleontologia aviária na Universidade de Ohio quando conduziu a pesquisa, disse que a descoberta do fóssil de Vegavis na Antártida e um fóssil de uma espécie extinta de ave conhecida como Conflicto antarcticus de um local próximo, datando de pouco depois da extinção dos dinossauros, permitiria aos paleontólogos investigar como alguns animais sobreviveram ao evento cataclísmico.
“O que acontece com os sobreviventes? O que determina, número um, o que é um sobrevivente, e número dois, como serão os sobreviventes após um desses eventos catastróficos?”, disse.
Fóssil descoberto por criança é do maior réptil marinho conhecido
Fonte: www.cnnbrasil.com.br