O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está na China para uma viagem de Estado e deve participar da cúpula entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e o país asiático.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil, com US$ 38,8 bilhões em importações e exportações só no primeiro trimestre do ano e balança superavitária para o lado brasileiro.
A Celac, por sua vez, é considerada pelo governo Lula um importante fórum para sua agenda regional. O grupo, segundo destaca o Itamaraty, é o único organismo de integração que reúne os 33 países em desenvolvimento da América Latina e do Caribe.
O retorno à Celac ― que havia sido abandonada por Jair Bolsonaro ― foi o primeiro ato internacional do governo Lula na semana que tomou posse para o terceiro mandato. E a cúpula de 2023 em Buenos Aires inaugurou a agenda de viagens do presidente a outros países.
“O Brasil atribui enorme importância à Celac, como fórum privilegiado de diálogo, que tem também essa vertente de interlocução da região com outros países e blocos”, destacou a embaixadora Gisela Padovan, Secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty.
O encontro com a China neste ano se torna ainda mais relevante em meio à guerra comercial dos Estados Unidos, embora o governo afirme que a aproximação com Pequim não contrapõe a relação com Washington.
“Ganha muita relevância porque é uma cúpula com o principal adversário americano no contexto em que o governo Donald Trump deu sinais de que está disposto a retomar a influência na América Latina”, observa o professor de Relações Internacionais da FGV Vinícius Vieira.
“É uma sinalização da América Latina, ainda que não tenha resultados imediatos, de que a região tem uma alternativa para resistir a essa influência”, acrescenta.
No caso específico do Brasil, afirma Vieira, a visita do presidente Lula sinaliza que o governo está disposto a dialogar com todos os lados, mas vê a China como anteparo à tentativa americana de reafirmar a sua influência e hegemonia na América Latina.
A analista internacional da CNN Fernanda Magnotta reforça que o Brasil busca evitar alinhamentos automáticos, maximizar as oportunidades e preservar a autonomia.
“A visita reforça o interesse brasileiro em diversificar parcerias estratégicas e reduzir sua vulnerabilidade diante de choques unilaterais vindos de potências tradicionais. Assim, a aproximação com a China não representa um distanciamento dos EUA, mas sim um movimento pragmático para se posicionar melhor em uma ordem global em transição”, afirma.
Lula diz não aceitar ideia de “nova Guerra Fria”
Em entrevista publicada pela revista americana The New Yorker, o presidente brasileiro disse que não aceita a ideia de uma nova Guerra Fria e atribuiu a animosidade do Ocidente com a China aos avanços do gigante asiático.
“Agora que os chineses se tornaram competitivos, tornaram-se inimigos do mundo”, declarou.
Lula desembarcou na China no sábado (10), acompanhado por ministros e parlamentares. De acordo com o Itamaraty, os dois países devem assinar pelo menos 16 acordos bilaterais. Outros 32 estão em negociação.
Durante a visita de Estado, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) vai promover uma série de ações para incentivar o comércio entre Brasil e China em meio às tensões provocadas pela guerra tarifária iniciada por Donald Trump.
As iniciativas da Apex incluem o fórum entre empresários de Brasil e China, o seminário sobre segurança alimentar, a assinatura de uma parceria com a rede de cafeterias chinesa Luckin Coffee, além de ações para promover a carne bovina brasileira.
A agência destaca que o Brasil vê potencial para exportações de proteína animal, café e produtos de maior valor agregado para diversificar a pauta exportadora. Ainda de acordo com a Apex, a China corresponde a 28% do total de exportações e 41% do superávit do comércio brasileiro.
Pedro Steenhagen, PhD em Política Internacional pela Fudan University, em Shangai, afirma que essas iniciativas reforçam a relação ascendente entre Brasil e China para além do nível governamental.
“Não é um esforço apenas entre os governos. Trata-se de aproximar mais empresas e organizações de Brasil e China”, afirma Steenhagen, destacando que isso se torna ainda mais importante diante da instabilidade global.
“A guerra comercial impõe novos desafios ao Brasil e a essa relação com a China tem um nível de previsibilidade e segurança que dá tranquilidade ao empresariado brasileiro, especialmente o agronegócio, nesse contexto de guerra comercial”, ressalta Steenhagen.
Analistas ouvidos pela CNN destacam ainda que o estreitamento de laços traz uma série de oportunidades para o Brasil, com ampliação do comércio, atração de investimentos em infraestrutura e acesso a tecnologias estratégicas.
“Em uma série de projetos e interesses comuns, é possível destacar prioridades como a cooperação financeira, a infraestrutura para induzir o desenvolvimento e a tecnologia, principalmente a Inteligência Artificial, a infraestrutura digital e a cooperação especial”, aponta Pedro Steenhagen.
Ainda assim, o Brasil deve buscar diversificar e aprimorar os investimentos que recebe da China, sugere Vinícius Vieira, citando como exemplo o setor industrial. “Esses investimentos não podem ser voltados ― como tem sido historicamente ― àquilo que interessa à China, que é energia e transportes”, observa.
“É interessante que o Brasil negocie investimentos industriais não só para o mercado interno, mas também para que produtos chineses ou com tecnologia chelsea possam ser exportados a partir do Brasil para outros mercados, como os Estados Unidos, a Europa e a África”, acrescenta.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br