Há 36 minutos
Soltura de filhotes devolveu 4,9 mil tracajás à natureza, em fevereiro. Trabalho envolve comunitários, Ufam, Sema e Instituto Claro
Em um esforço conjunto para fortalecer a conservação da biodiversidade no Amazonas, as comunidades Nova Geração e São Sebastião do Igapó-Açu devolveram 4.922 tracajás (Podocnemis unifilis) para o rio Igapó-Açu, que batiza a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) da região, gerida pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema).
Foto: Noir Miranda/Sema
O trabalho de monitoramento de quelônios em todas as comunidades das Unidades de Conservação é feito com o apoio de seus moradores. Segundo Osvaldo Assunção, conhecido como “seu Preto” e morador da comunidade Nova Geração há 55 anos, o monitoramento de quelônios é um trabalho feito por vontade própria. “Porque eu moro no lugar e quero ver o lugar sempre bem”, comentou.
Como liderança antiga, seu Preto vê em si mesmo o aprendizado deixado pelas instituições e gestão da Reserva. Com os projetos de preservação, capacitação e mobilização, ele entendeu que o monitoramento de quelônios contribui para a preservação da espécie, e também para o equilíbrio ecológico da região.
“A terra eu respeito muito, sim senhor. Eu não mato anta, não mato porco, não como tracajá, eu crio porque eu gosto, para preservar para os meus filhos, netos e tataranetos, que ainda não tenho, mas bisneto eu já tenho. É para eles, para eles conhecerem no futuro, é por isso que a gente trabalha”, declarou.
História de sucesso
![](https://www.agenciaamazonas.am.gov.br/wp-content/uploads/2025/02/03-Adilson-Barreto-morador-da-comunidade-Sao-Sebastiao-do-Igapo-Acu-Foto_Noir-Miranda_SEMA-1024x583.jpeg)
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Foto: Noir Miranda/Sema
“Tem bilionário que não tem esse prazer que nós estamos tendo hoje. A natureza aqui com a gente, aprendemos a retirar, mas também temos que aprender a devolver. Esse projeto vai muito longe”, disse o morador da comunidade São Sebastião do Igapó-Açu, Adilson Barreto. Ele foi um dos primeiros a desenvolver o projeto de monitoramento no local, acompanhando todas as coletas ao longo de 15 anos.
“Aqui tiravam muito ovo, tinha a caça dos bichos adultos, mas o ovo era o mais perseguido. Agora com o nosso projeto, desovam muitos ovos aqui nas praias pela frente da comunidade, e anos antes você não via nenhum”, contou.
A capacitação e acompanhamento do trabalho é feita pelo Projeto Pé-de-Pincha, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em parceria com o Instituto Claro e apoio da Sema Amazonas. Adilson conta que, do início do projeto até hoje, houve um grande aumento da população de quelônios por conta do manejo sustentável realizado da forma correta.
“Para baixo do rio, a população aumentou demais nesses 15 anos. A gente agradece muito a Ufam, que foi a nossa cabeça de águia, e também a nossa antiga gestora da Reserva, deu muita força pra nós. O Projeto Pé-de-Pincha trouxe muito conhecimento para nós, a Sema também trouxe muitos estudiosos”, afirmou.
Esforço coletivo
Olendina França esteve presente desde o início da implementação do projeto, mas assumiu o título de “mãe dos quelônios de São Sebastião” em 2016. Hoje, quase dez anos depois, já conhece o passo a passo da coleta até a soltura, ensinado pelos pesquisadores e técnicos ambientais que trabalham na Reserva.
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Foto: Noir Miranda/Sema
“Quando chega o mês de agosto, a gente forma uma equipe com as duas comunidades juntas. Vão três comunitários daqui e três de lá, junto com o pessoal da Ufam, e sobem o rio. De lá coletam dois dias sim e dois dias não, porque tem que dar tempo para o tracajá desovar”, explicou.
“Nessa etapa de espera, eles vêm deixar a primeira leva para plantar na chocadeira, onde já tem uma outra equipe para colocar os ovos. Quando começa a nascer, coletam eles e levam para o berçário, onde eu fico três meses dando alimentação e trocando de água”, completou a moradora.
Dona Dina cuida do monitoramento com dedicação e amor. Segundo ela, é um esforço constante e pesado, mas contínuo e frutífero. A empreendedora, vendo o sucesso de seu trabalho e a importância para a biodiversidade local, não pretende parar com o cuidado com os quelônios.
“Esse projeto a gente não pode entregar na mão de qualquer pessoa. Aqui é uma BR federal, onde passa tudo que é bom e o que é ruim. Muita gente quando passa aqui e vê, quer comprar os bichinhos, levar embora. Por isso que até agora eu não entreguei o trabalho para ninguém, eu cuido até hoje, enquanto Deus me der força, coragem e saúde, eu vou ficar com o projeto,” completou.
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Foto: Noir Miranda/Sema
Áreas Protegidas
A atividade recebe apoio financeiro do Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), que é uma iniciativa conjunta patrocinada por agências governamentais e não governamentais para expandir a proteção da floresta amazônica.
Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática, tem o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) como gestor e executor financeiro. No Amazonas, é executado por meio da Sema, em 24 Unidades de Conservação do Estado.