O Mounjaro, nome comercial da tirzepatida, deve começar a ser comercializado nos próximos dias. A expectativa de sua venda oficial no Brasil tem movimentado farmácias e gerado discussões em diferentes espaços.
O medicamento injetável, originalmente desenvolvido para o tratamento do diabetes tipo 2, vem ganhando destaque por sua eficácia também na perda de peso.
Sua ação é inovadora, pois a mesma substância combina dois mecanismos hormonais: é um agonista do receptor do GLP-1 (semelhante à semaglutida, princípio ativo do Ozempic e Wegovy) e agonista do GIP. Apesar de muito se falar sobre o remédio, ainda há dúvidas sobre a tirzepatida — especialmente em comparação com a semaglutida. Para esclarecer os principais pontos sobre o tema, conversamos com especialistas.
Dúvidas sobre o Mounjaro respondidas por especialistas
1. A tirzepatida (Mounjaro) é mais eficiente do que a semaglutida?
Sim. De acordo com a endocrinologista e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Carolina Janovsky, estudos comparativos apontam a tirzepatida como mais eficaz para a perda de peso em pessoas com obesidade.
“Em média, pacientes que usaram tirzepatida perderam cerca de 20% do peso corporal, enquanto os que usaram semaglutida perderam cerca de 13%”, comenta Carolina.
2. A tirzepatida (Mounjaro) pode ser usada mesmo sem diabetes?
Sim. Embora a aprovação no Brasil, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), esteja restrita ao controle glicêmico de adultos com diabetes tipo 2, Carolina destaca a liberação do Zepbound nos Estados Unidos. O Zepbound é o nome comercial da tirzepatida voltado para o tratamento da apneia obstrutiva do sono moderada a grave em adultos com obesidade.
3. A tirzepatida (Mounjaro) causa efeitos colaterais?
Sim. Os efeitos mais comuns incluem náuseas, diarreia, prisão de ventre e, em alguns casos, vômitos. “Esses sintomas costumam aparecer nas primeiras semanas de uso e tendem a diminuir com o tempo. Também pode ocorrer perda de apetite, o que está relacionado ao seu mecanismo de ação”, aponta Carolina.
4. A tirzepatida (Mounjaro) é liberada para a população geral?
Não. De acordo com a bula do medicamento, disponibilizada pelo laboratório Eli Lilly, o remédio é contraindicado para:
- grávidas;
- lactantes;
- crianças e adolescentes (uso aprovado apenas para adultos);
- pessoas com pancreatite;
- pessoas com histórico pessoal ou familiar de câncer medular da tireoide;
- pessoas com alergia a componentes da fórmula.
“Pessoas com uma síndrome genética rara chamada MEN-2 não devem usá-lo”, complementa Janovsky.
5. O uso da tirzepatida (Mounjaro) pode alterar o ciclo menstrual?
Sim. Algumas mulheres relatam mudanças no ritmo ou no fluxo menstrual durante as aplicações do remédio, explica Carolina. “Isso pode estar relacionado tanto à perda de peso quanto a ajustes hormonais provocados pelo medicamento.”
Segundo Rosália Padovani, endocrinologista e diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional São Paulo (SBEM-SP), os estudos sobre os impactos do uso da tirzepatida ainda são limitados. “É fundamental que qualquer mudança no ciclo menstrual seja comunicada ao médico, para que a situação possa ser monitorada adequadamente”, orienta Padovani.
6. A tirzepatida (Mounjaro) pode interferir no sono, humor ou saúde mental?
Sim. Assim como a alteração na menstruação, tanto Janovsky quanto Padovani mencionam relatos de mudanças negativas. Esses efeitos variam entre os indivíduos. “Por outro lado, por melhorar a apneia do sono, pode haver melhora do sono e da disposição, levando a benefícios na saúde mental”, analisa Carolina.
7. É preciso seguir uma dieta específica durante o uso da tirzepatida (Mounjaro)?
Não, mas isso não significa que tudo está liberado. Mesmo sem uma alimentação restritiva obrigatória, é essencial manter uma dieta saudável e equilibrada para potencializar os efeitos e manter os resultados. “Comer bem continua sendo fundamental”, diz Janovsky.
8. É preciso fazer exames antes de iniciar o uso da tirzepatida (Mounjaro)?
Sim. É importante avaliar a função dos rins e do fígado, além do perfil de colesterol, glicemia e pressão arterial. Mulheres em idade fértil devem fazer um teste de gravidez antes de iniciar o tratamento.
9. A perda de peso com a tirzepatida (Mounjaro) pode deixar o corpo flácido?
Sim. Isso ocorre principalmente quando o emagrecimento é rápido e sem prática de exercícios. A dermatologista Gessica Ramos, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), recomenda acompanhamento com endocrinologista e nutricionista, além de tratamentos dermatológicos para manter a qualidade da pele e reposição de volume, se necessário.
“Em relação à firmeza da pele, recomendo aos pacientes que iniciem tratamentos de bioestímulo de colágeno e melhora da qualidade da pele logo no começo do tratamento com o Mounjaro — e não esperem alcançar a meta de perda total de peso”, aconselha Gessica.
10. Cabelos e unhas também podem ser afetados?
Sim. Pode haver queda de cabelo e enfraquecimento das unhas em alguns casos. Gessica explica que, embora o medicamento não interfira diretamente na absorção de nutrientes — como ocorre após a cirurgia bariátrica — a redução do apetite pode diminuir a ingestão de certos alimentos, o que leva a deficiências nutricionais.
“É o eflúvio telógeno agudo. O corpo entende isso como um ‘trauma’, um ‘estresse’ e altera o ciclo capilar, gerando uma queda aguda. Isso é observado em qualquer tipo de perda de peso rápida, não somente em casos de uso do Mounjaro”, esclarece a dermatologista. Beber bastante água, usar hidratantes, manter uma boa ingestão de proteínas e vitaminas, e, se necessário, utilizar suplementos sob orientação médica pode ajudar a evitar esses problemas.
11. É possível manter os resultados após parar o uso?
Sim. Algumas pessoas conseguem manter parte dos resultados, principalmente se continuarem com hábitos saudáveis. No entanto, o risco de reganho de peso existe.
Quando o medicamento é interrompido, o apetite tende a voltar e o metabolismo pode desacelerar. Isso ocorre especialmente se não houver mudanças no estilo de vida. “É essencial que o paciente mantenha acompanhamento médico durante e após o término do tratamento, para garantir uma transição saudável”, avalia Padovani.
12. A tirzepatida (Mounjaro) pode causar dependência?
Não. O medicamento não causa vício como remédios que atuam diretamente no cérebro. No entanto, por ajudar a controlar o apetite, pode haver uma percepção de mudança após a interrupção.
“A dose é iniciada de forma baixa e vai sendo aumentada gradualmente, geralmente a cada quatro semanas, para permitir a adaptação do organismo e minimizar os efeitos colaterais. Esse processo é sempre feito com acompanhamento médico”, explica Janovsky.
“Contudo, é crucial que o uso de qualquer medicamento seja feito sob a supervisão de um profissional de saúde”, complementa Padovani.
13. A tirzepatida (Mounjaro) substitui exercícios e alimentação saudável?
De forma alguma. Embora possa ser uma aliada no processo de emagrecimento, ela não substitui o papel da alimentação balanceada e da prática regular de atividade física. “Adotar hábitos saudáveis, promover mudanças no estilo de vida e realizar reeducação alimentar são fundamentais para a manutenção do peso e da saúde geral”, indica Padovani.
14. É seguro usar a tirzepatida para a vida toda?
Ainda não se sabe. De acordo com Carolina, os estudos mais longos até agora acompanharam pacientes por dois a três anos com segurança. “A tendência é que, como outras medicações de uso crônico, o tratamento possa ser prolongado, desde que bem tolerado e acompanhado por um médico”, conclui a endocrinologista.
Wegovy ou Mounjaro? Estudo mostra qual é melhor para perda de peso
Fonte: www.cnnbrasil.com.br