Uma pintura de René Magritte retratando uma paisagem urbana estranhamente iluminada foi vendida por mais de 121 milhões de dólares (cerca de 718 milhões de reais) em um leilão da Christie’s em Nova York, Estados Unidos, no último dia 19 — superando sua estimativa de 95 milhões de dólares (cerca de 564 reais) e quebrando o recorde de leilão para obras do artista surrealista.
Como uma das maiores pinturas em uma sucessão de 27 obras intituladas “L’empire des lumières” (“O Império das Luzes”, em tradução para o português), a tela de 1954 é bem conhecida entre especialistas em arte do século 20 por sua escala, condição pristina e detalhes sutis.
A casa de leilões descreveu a obra como a “joia da coroa” da coleção de sua antiga proprietária, a falecida designer de interiores americana Mica Ertegun — parte da qual foi colocada à venda no dia 19 de novembro. O leilão também apresentou pinturas de outros gigantes modernos como Ed Ruscha e Max Ernst.
A obra retrata uma casa com um único poste de luz à frente. A chama do poste ilumina toda a tela, incluindo as árvores escuras — quase negras — em primeiro plano, enquanto a imagem é serenamente refletida sobre um espelho d’água. Acima da paisagem urbana, um céu azul claro pontilhado com nuvens brancas e fofas se estende até o topo da tela.
A pintura tem sido elogiada por sua capacidade única de justapor uma paisagem noturna e a luz do dia –– um motivo surrealista que Magritte explorou em suas pinturas de paisagens por quase duas décadas.
“O motivo é uma das poucas imagens verdadeiramente icônicas na arte do século 20 e a pintura, particularmente o céu e a luz tremeluzente em primeiro plano”, disse Max Carter, Vice-Presidente da Christie’s de Arte dos Séculos 20 a 21, em um e-mail à CNN antes da venda, acrescentando que a obra tem um “brilho extraordinário pessoalmente”.
O preço de venda, que superou as estimativas, marca um ponto positivo em meio a uma desaceleração nas vendas globais de arte e um mercado de arte prejudicado por incertezas econômicas. “Quando ícones aparecem no mercado, eles criam sua própria dinâmica de mercado”, disse Carter.
Outras duas obras de Magritte foram incluídas na venda: As pinturas “La cour d’amour” e “La Mémoire”, que foram vendidas por 10,53 milhões de dólares (62,55 milhões de reais) e 3,68 milhões de dólares (21,86 milhões de reais), respectivamente. Em outro lugar, uma natureza morta do artista britânico David Hockney, de 87 anos, alcançou mais de 19 milhões de dólares (112,86 milhões de reais).
De acordo com a Pesquisa Global de Colecionamento 2024 da Art Basel e UBS, as vendas em leilões públicos na Christie’s totalizaram 2,1 bilhões de dólares (cerca de 12,47 bilhões de reais) no primeiro semestre deste ano –– uma queda de 22% em relação ao mesmo período do ano passado — marcando o segundo ano consecutivo de declínio nas vendas do primeiro semestre.
A Christie’s, no entanto, viu alguns aumentos em 2024, incluindo em sua venda de arte asiática, bem como nas vendas online totais, que registraram um aumento de 3% na participação global de lances desde 2023. Uma recente venda de arte dos séculos 20 e 21 em Hong Kong viu obras de Claude Monet e Vincent van Gogh alcançando preços próximos e abaixo das estimativas — um sinal de que os compradores continuam cautelosos.
Embora talvez mais conhecido por suas representações surrealistas de homens usando chapéus-coco, Magritte passou um período de 15 anos explorando a transição fugaz do dia para a noite em pinturas de paisagens. Ele produziu um total de 17 pinturas a óleo e 10 guaches (pinturas à base de água) que compartilham o nome “L’empire des lumières” — e cada uma com pequenas alterações entre as versões.
As pinturas paradoxais aumentaram em demanda, particularmente quando uma versão grande criada em 1954 foi apresentada no Pavilhão Belga na Bienal de Veneza e foi vendida para a famosa colecionadora Peggy Guggenheim. Magritte passou a criar três telas igualmente grandes — incluindo a que foi vendida na terça-feira — naquele mesmo ano para não decepcionar outros colecionadores.
Quando questionada sobre o surrealismo comparativamente sutil das obras “L’empire des Lumières”, Sandra Zalman, professora associada de história da arte na Universidade de Houston, argumentou que o poste de luz foi uma primeira iteração do icônico homem do chapéu-coco. “A sombra do poste alude ao homem do chapéu-coco, pairando — ou assombrando — o espaço que de outra forma seria considerado uma paisagem tranquila, embora sinistra”, disse ela, em um e-mail.
Zalman acrescentou que o momento da venda também é apropriado — não apenas porque coincide com o centenário do movimento surrealista, mas porque está ocorrendo durante um “momento surreal da história para se viver”. “Eu também argumentaria que o próprio tempo dos surrealistas era igualmente cheio de ansiedade”, disse Zalman. “Há quase paralelos demais”.
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Fonte: www.cnnbrasil.com.br