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Overtraining: entenda o que acontece quando treinamos demais

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O excesso de exercício físico, especialmente sem descanso adequado, pode causar diversos prejuízos ao organismo humano. Em casos mais graves, esse quadro pode evoluir para a chamada síndrome do overtraining, caracterizada por perda de performance e de apetite, fadiga crônica, dor muscular, aumento de lesões, alterações no sistema imune e no metabolismo.

Estudo publicado na revista Molecular Metabolism aponta a expressão em excesso de uma proteína como a causadora da síndrome.

Um grupo liderado por pesquisadores da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (FCA-Unicamp), em Limeira, mostrou que camundongos submetidos a treinamento excessivo tiveram perda de performance, fadiga e até sintomas comportamentais (por exemplo, inatividade sob estresse e mais comportamentos de autolimpeza), ao mesmo tempo em que expressaram de forma excessiva a proteína PARP1 na musculatura esquelética.

Ao centro, músculo de um animal submetido ao protocolo de treinamento apresenta um aumento de 4,8% da área das fibras em relação ao que não recebeu treinamento (à esq.). À dir., overtraining promoveu uma redução de 19% no tamanho das fibras musculares quando comparado ao músculo do grupo submetido ao protocolo de treinamento (imagem: Barbara Crisol)

“A proteína é ativada quando há algum estresse no organismo, prevenindo a morte celular, e era bem descrita como aumentada no músculo esquelético em condição de obesidade e distrofias musculares. Confirmamos que sua hiperativação está relacionada ao dano muscular causado pelo excesso de exercício”, explica Barbara Crisol, que realizou o trabalho como parte de seu doutorado na FCA-Unicamp com bolsa da FAPESP.

O estudo integra projeto coordenado por Eduardo Ropelle, professor da FCA-Unicamp.

Não há tratamento específico para a síndrome do overtraining além da suspensão parcial ou total do treinamento por semanas ou até meses. Embora possa ser especialmente prejudicial na carreira de atletas profissionais, os sintomas também afetam não atletas.

No estudo, os pesquisadores observaram que camundongos tratados com uma droga que inibe a atividade da PARP1 não tiveram queda de desempenho e demais sintomas do overtraining após realizarem um protocolo de exercício físico excessivo.

Em tumores de mama e ovário, o medicamento usado no estudo, denominado olaparibe, inibe a atividade da PARP1 e, assim, facilita a morte das células cancerígenas. Nos animais, a droga evitou a hiperativação da proteína no músculo, evitando o quadro de overtraining.

“Pela primeira vez se colocou um agente farmacológico capaz de prevenir o overtraining. Esse foi um dos grandes avanços do estudo. No entanto, é preciso deixar claro que esta não é uma droga que sirva para essa finalidade, uma vez que tem diversos efeitos colaterais, inclusive o de suprimir o sistema imune”, alerta Ropelle.

Os pesquisadores buscam algum composto natural que possa reduzir a produção de PARP1 no músculo e, com isso, prevenir ou tratar o overtraining.

Humanos

Além das análises com camundongos, que realizaram um modelo experimental de overtraining em Limeira, outra parte do estudo foi realizada com humanos na Escola Sueca de Esporte e Ciências da Saúde, em Estocolmo. Lá, pesquisadores submeteram um grupo de voluntários saudáveis a uma rotina de três semanas de treino intervalado de alta intensidade (HIIT, na sigla em inglês).

Os pesquisadores aumentavam o número de sessões de treino ao longo das semanas enquanto reduziam o tempo para recuperação entre elas. A ideia foi mimetizar uma condição de treino em excesso. Biópsias do músculo dos voluntários eram então analisadas.

Pesquisadores analisaram dados obtidos em animais e humanos (foto: Ana Paula Morelli/LaBMEx-FCA-Unicamp)

“Não é fácil obter dados de overtraining em humanos, até porque não seria ético induzir a condição em pessoas. Por isso, esse protocolo se aproxima do que pode estar acontecendo no músculo de pessoas que realizaram treinamento em excesso”, conta Crisol, atualmente realizando pós-doutorado no Centre de Recherche en Myologie, na França, dedicado ao estudo de condições musculares.

As análises apontaram que o protocolo de exercício reduziu a tolerância à glicose, a função mitocondrial (relacionada à produção de energia na célula) e a performance física ao fim da terceira semana de treinamentos.

Esses resultados foram publicados primeiramente pelo grupo europeu na revista Cell Metabolism.

Na sua própria análise dos dados, que realizou com apoio da FAPESP durante estágio na instituição sueca, Crisol observou que o exercício excessivo em indivíduos saudáveis aumentou a chamada parilação no músculo, fenômeno decorrente da atividade da PARP1 nas células.

O achado é compatível com uma série de descobertas que vêm sendo realizadas sobre a relação da proteína com condições musculares. Altos níveis da PARP1 foram encontrados, por exemplo, no músculo de pessoas com distrofia muscular de Duchenne, doença genética que afeta sobretudo crianças.

A proteína também está relacionada com a obesidade e a caquexia, esta última uma síndrome que provoca perda muscular em pacientes em tratamento de câncer. Níveis altos de PARP1 foram encontrados ainda em quadros de sepse. A busca de compostos que possam fazer a inibição da proteína sem efeitos colaterais, portanto, pode ser benéfica para o tratamento de diferentes condições.

“O overtraining em si debilita bastante a pessoa, inclusive psicologicamente. Nos camundongos, vimos que a expressão ou não da proteína faz diferença inclusive nesse aspecto. Prevenir ou amenizar os efeitos com algum composto seria bastante benéfico”, encerra Ropelle.

O trabalho também teve apoio da FAPESP por meio de outros três projetos (13/07607-8, 21/08354-2 e 22/08930-6).

O artigo Excessive exercise elicits poly (ADP-ribose) Polymerase-1 activation and global protein PARylation driving muscle dysfunction and performance impairment pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2212877825000420.

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Fonte: www.cnnbrasil.com.br

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