O presidente da Argentina, Javier Miliei, disse, à CNN nesta quinta-feira (23), ser “lamentável” a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de não devolver o passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro, que acabou não comparecendo à posse de Donald Trump nos Estados Unidos no início desta semana. Investigado por suposto envolvimento em um plano de golpe de Estado no Brasil, a Corte negou quatro pedidos da defesa do ex-presidente para reaver o documento.
“Acho lamentável que a liberdade de movimento tenha sido censurada”, declarou Milei ao analista e âncora do CNN Money, Fernando Nakagawa, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos.
A CNN conversou com quatro integrantes da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados sobre a fala de Milei.
Para o vice-presidente da Comissão, General Girão (PL-RN), a declaração do líder argentino “é mais um fato que demonstra que a comunidade internacional está de olho no que acontece no Brasil“.
“A princípio, não tenho motivo algum para discordar de sua fala, que tem por base o direito constitucional de ir e vir, a liberdade de locomoção”, afirmou Girão à CNN.
De acordo com o general, não há justificativa para que o documento não tenha sido liberado.
“Considero que o motivo ‘fuga’ (ou evasão) não tem respaldo na circunstância atual. Muitos falam em perseguição à direita nos tempos atuais, o que, de fato, é muito factível”, adicionou o deputado.
Já para Carlos Zarattini (PT-SP), vice-líder do governo no Congresso e titular da Comissão, a vitória de Trump trouxe uma sensação de “unidade mundial” para a direita.
“A extrema-direita mundial está esfuziante com a vitória do Trump, achando que isso vai fortalecer ela em cada um dos países. Tem essa sensação de, vamos dizer assim, de unidade mundial”, pontuou o parlamentar. “O fato é que a medida que essas medidas do Trump forem sendo implementadas, isso vai afetar muito o povo desses países. Aqueles que estão hoje batendo palma para o Trump, vai se mostrar uma situação idiota. O povo americano vai sofrer com aumento dos preços”, completou.
Zaratini acredita que, apesar do resultado para a direita dos EUA, a ideologia pode se mostrar um “desastre mundial”. “Em relação geral, ideologicamente, estão esfuziantes, mas vai se mostrar um desastre mundial”, disse.
Arlindo Chinaglia (PT-SP), também titular da Comissão, respondeu que “a extrema direita é especialista em golpear a democracia”.
“Aqui no Brasil, é crime e o judiciário é independente para julgar”, disse o deputado sobre a fala do presidente argentino.
O deputado e suplente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, Cabo Gilberto Silva (PL-PB), diz concordar “plenamente” com Javier Milei.
“Concordo plenamente aí com as declarações de presidente da Argentina”, disse o deputado à CNN. “Também não temos o número suficiente de senadores para frear esses abusos da Suprema Corte, até porque a constituição é bastante clara. Só o Senado Federal pode fazer o sistema de freios e contrapesos voltar a funcionar em nosso país”, complementou.
Segundo o parlamentar, o “devido processo legal” não está sendo respeitado no país e o ex-presidente não deveria estar sendo julgado pelo STF.
Passaporte retido
Apesar de também ter sido convidado, Jair Bolsonaro não pode comparecer em função do passaporte estar retido. Responsável pelo caso, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, negou quatro pedidos da defesa do ex-presidente para reaver o documento.
Como apurou o âncora Gustavo Uribe, aliados do ex-presidente defendem que Bolsonaro solicite a possibilidade de uma nova viagem aos Estados Unidos em fevereiro de 2025.
Nos eventos relativos à posse de Trump, Bolsonaro chegou a “participar” por chamada de vídeo.
À CNN nesta quinta-feira (23), ele lamentou não ter acompanhado a esposa na viagem e defendeu que, se tivesse ido, a “repercussão seria menor”.
Sobre a decisão do ministro Alexandre de Moraes, que o ex-mandatário pode proceder “da mesma maneira como vem defendendo a fuga do país e o asilo no exterior para os diversos condenados com trânsito em julgado pelo plenário do STF, em casos conexos à presente investigação”, Bolsonaro garantiu que não vai fugir do país.
“Eu vou para a cadeia, eu não vou fugir do Brasil. Eu podia ter ficado lá quando eu fui para os Estados Unidos. Quando eu fui para a posse do Milei, eu poderia ter ficado, mas vim para cá, sabendo de todos os riscos que estou correndo”, declarou o ex-presidente.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br