A morte de José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai, marca o fim de uma era na política latino-americana. Regiane Bressan, professora de Relações Internacionais da Unifesp, em entrevista à CNN Brasil, destacou o legado deixado por Mujica não apenas para seu país, mas para toda a América Latina.
Segundo Bressan, Mujica se destacou por sua atuação coerente e fiel aos seus ideais. “Ele foi um presidente que se destacou por ser uma figura humilde, simplória, por falar com aqueles que estavam marginalizados”, afirmou a professora. Sua administração foi marcada pela aprovação de medidas progressistas no Uruguai, em um momento em que muitos países ainda não haviam iniciado tais discussões.
Impacto social e político
O ex-presidente uruguaio conquistou não apenas a sociedade de seu país, mas de toda a América Latina, ao enfrentar problemas cruciais como desemprego, desigualdade e pobreza.
Bressan ressaltou que Mujica “conseguiu conquistar não só a sociedade uruguaia, mas toda a América Latina, porque de fato atuou enfrentando o desemprego, enfrentando a desigualdade, a pobreza, ou seja, dando melhores condições de vida aos marginalizados, aos menos favorecidos do seu país”.
Um dos exemplos mais notáveis da humildade e compromisso de Mujica foi a doação de 70% de seu salário presidencial para a construção de moradias populares e para seu partido político. Este gesto, segundo Bressan, deveria servir de inspiração para outras lideranças políticas, especialmente em países que enfrentam altos níveis de pobreza e desigualdade.
Legado democrático
Além de suas políticas sociais, Mujica deixou um importante legado para a democracia uruguaia. A professora destacou que ele “foi muito respeitoso com as instituições democráticas do seu país” e ajudou a consolidar a democracia no Uruguai. Isso se reflete no fato de que, nas últimas eleições, mesmo com partidos de oposição disputando a presidência, nenhum representava uma ameaça à democracia ou propunha mudanças radicais no país.
Bressan também abordou o desafio de formar novas lideranças na América Latina que sigam o exemplo de Mujica. Ela observou que existe uma cultura na região que tende a depositar poder excessivo nos presidentes, o que pode levar à emergência de governos autoritários.
“Existem estudos que mostram que para a sociedade latino-americana um presidente poderia ter superpoderes e assim a sociedade vai aprovando que o presidente rompa com as instituições democráticas”, explicou.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br