A presença da Ucrânia na região russa de Kursk se deteriorou drasticamente, com o avanço russo ameaçando o único ponto de negociação territorial de Kiev em um momento crucial da guerra.
Blogueiros de guerra de ambos os lados dizem que a Ucrânia está em desvantagem, enquanto o exército ucraniano diz que as forças russas usaram um gasoduto para lançar um ataque surpresa na área.
O Ministério da Defesa da Rússia disse neste domingo que suas forças capturaram quatro assentamentos em alguns dias.
A Ucrânia lançou uma incursão surpresa em Kursk em agosto, capturando rapidamente o território no que foi a primeira invasão terrestre na Rússia por uma potência estrangeira desde a Segunda Guerra Mundial.
Além de capturar terras que poderiam ser trocadas por território ocupado pela Rússia, a campanha visava desviar os recursos de Moscou das linhas de frente no leste.
Mas, desde então, a Ucrânia tem lutado para manter o território em Kursk e enfrenta um quadro diplomático fundamentalmente transformado, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aumentando a pressão sobre Kiev para concordar com a paz, interrompendo a ajuda militar e o compartilhamento de inteligência dos EUA.
“A tampa do caldeirão está praticamente fechada”, disse Dmitry Medvedev, ex-presidente russo que agora é vice-presidente do Conselho de Segurança do país, neste domingo sobre os avanços russos em Kursk. “A ofensiva continua. Continuem!”
Blogueiros militares ucranianos e russos alertam que o domínio de Kiev na região está mais tênue do que nunca, com tropas russas apoiadas por forças norte-coreanas lançando ataques incessantes.
A CNN não consegue verificar de forma independente os relatos do campo de batalha, mas os blogueiros forneceram um relato preciso dos combates.

Vigilância do gasoduto intensificada
Os últimos relatórios sugerem que a Rússia está mirando Sudzha, uma cidade na fronteira, em uma tentativa de cortar uma rota de suprimento logístico essencial para as forças da Ucrânia dentro de Kursk.
Yuriy Butusov, um blogueiro militar ucraniano, disse que as forças russas entraram em Sudzha no sábado (8) por um gasoduto.
“Os russos usaram um gasoduto para implantar uma empresa de assalto sem ser detectada por drones e se enfiaram em nossas formações de combate”, escreveu Butusov. Ele acrescentou que o gasoduto estava agora sob vigilância reforçada e que as tropas de Moscou estavam sendo “eliminadas”.
No entanto, Butusov alertou que as tropas russas e norte-coreanas na região de Kursk estão em uma “vantagem significativa em força” e estão “atacando continuamente”.
Cerca de 12.000 tropas norte-coreanas foram enviadas para Kursk, e sua chegada reforçou as operações ofensivas da Rússia dentro das próprias fronteiras.
“É difícil, mas estamos trabalhando”, disse um militar ucraniano à CNN. “Os coreanos continuam chegando.”
Um blogueiro militar russo não oficial deu um relato semelhante na cidade de Sudzha, alegando que cerca de 100 soldados russos se infiltraram no assentamento após entrarem pelo gasoduto — um movimento que ele disse ter sido possível depois que Kiev cortou o fornecimento de gás russo para a União Europeia via Ucrânia em 1º de janeiro.
Os militares da Ucrânia disseram no Telegram que as forças russas ganharam uma “posição de apoio” nos arredores de Sudzha, acrescentando: “Atualmente, as forças especiais russas estão sendo identificadas, bloqueadas e destruídas. As perdas inimigas na área de Sudzha são muito significativas.”
Situação logística “crítica”
As forças russas estão atacando Sudzha de várias direções, de acordo com Yuriy Kotenok, um blogueiro militar russo.
“Quaisquer movimentos do inimigo nesta área são detectados por nossos drones e o equipamento do inimigo está sendo atingido”, ele escreveu no Telegram.
Kotenok também afirmou que há “informações” de que a Ucrânia vai se retirar da região de Kursk, “com base na situação atual”.
Sternenko, um blogueiro ucraniano, disse que a situação logística “já era crítica”.
Outra dificuldade eram as “más condições das estradas”, afirmou Sternenko. Com a primavera trazendo temperaturas mais quentes, o solo descongelará, tornando as estradas mais lamacentas e ainda mais difíceis de atravessar, ele acrescentou. “Todas essas circunstâncias são muito favoráveis aos russos”.
O medo de Kiev é que os ganhos da Rússia possam cortar o fornecimento às tropas ucranianas em Kursk. Em um grande relatório no mês passado, o Instituto para o Estudo da Guerra, um monitor de conflitos sediado nos EUA, estimou que a Ucrânia tem no máximo 30.000 tropas estacionadas na região.
A incursão em Kursk foi uma questão para Moscou e levantou dúvidas sobre sua capacidade de proteger as próprias fronteiras. O presidente russo Vladimir Putin prometeu repetidamente que as forças recuperariam o controle total da região.
Kiev perdeu cerca de metade do território que antes ocupava em Kursk.
Em face dos ganhos da Rússia, alguns blogueiros ucranianos sugeriram que a incursão em Kursk pode ter esgotado seu valor estratégico.
“Eu não pensei que diria isso. Mas talvez seja hora de ‘fechar a loja’ na direção de Kursk. É difícil para nossos caras lá”, disse Serhii Flesh. “Como um desvio de recursos inimigos, acho que essa operação se justificou há muito tempo. Como uma carta de barganha política, agora é questionável.”
Fonte: www.cnnbrasil.com.br