Aos 72 anos, Reinaldo França de Moraes passou por uma experiência que mudou sua vida e também fez história na medicina de Roraima. No dia 6 de dezembro de 2024, o servidor público sentiu uma forte dor no peito e, desconfiado de um infarto, procurou atendimento médico no Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento. A suspeita se confirmou, e ele foi imediatamente internado, recebendo os primeiros cuidados.
Foi no leito que ele recebeu a notícia de que se tornaria o primeiro paciente a passar por uma cirurgia cardíaca de alta complexidade realizada no estado. O procedimento ocorreu em fevereiro e foi conduzido pela cirurgiã cardiovascular Dra. Paula Lago e sua equipe.
“Sempre dá aquele medo de ir para um hospital, mas, quando me internaram, eu fiquei bem tranquilo. Passei três dias na UTI [Unidade de Terapia Intensiva], depois fui para o bloco cirúrgico e, mesmo assim, não senti medo de nada. A Dra. Paula passou uma confiança tão grande que eu fiquei seguro de que daria tudo certo”, afirmou o paciente.
Apenas três dias após a cirurgia, Reinaldo já recebeu alta hospitalar, algo inédito para um procedimento desse porte em Roraima. “Hoje, a cirurgia de coração é uma coisa mais simples. Antigamente, era mais perigosa, todo mundo tinha medo. Mas hoje, com essa tecnologia toda, o HGR é bem aparelhado e com bons médicos. Então, você pode ficar tranquilo; quem for operar pode ir tranquilo e sem medo”, acrescentou o paciente.
SOBRE O PROCEDIMENTO
A primeira cirurgia cardíaca sem circulação extracorpórea realizada em Roraima representa um avanço significativo para a saúde pública do estado. Com a ampliação dos serviços especializados, mais pacientes terão acesso a tratamentos avançados, sem precisar se deslocar para outros estados, marcando o início de uma nova era para a medicina local.
A cirurgia realizada em Reinaldo foi uma revascularização do miocárdio sem circulação extracorpórea, um procedimento moderno que permite restaurar o fluxo sanguíneo para o coração sem a necessidade de interromper seus batimentos. No caso dele, uma das artérias estava 95% comprometida, o que exigiu a substituição do fluxo sanguíneo por meio do enxerto da artéria mamária.
Segundo a Dra. Paula Lago, essa técnica traz inúmeras vantagens, reduzindo riscos e acelerando a recuperação. “O paciente que faz uma cirurgia cardíaca geralmente tem uma lesão grave, seja nas artérias do coração, na parte estrutural ou elétrica. No caso do seu Reinaldo, tratamos uma doença das coronárias, que é como se fosse o encanamento do coração. Quando operamos sem parar o coração, conseguimos evitar esses riscos, proporcionando uma recuperação muito mais rápida”, destacou.
Normalmente, para realizar esse tipo de cirurgia, é preciso parar o coração, utilizando a circulação extracorpórea, mas isso pode trazer complicações, como infecções, inflamação, arritmias e até AVC (Acidente Vascular Cerebral). A Dra. Paula explica que essa técnica exige grande precisão e experiência da equipe médica.
“É como trocar a roda do carro com ele andando; o paciente fica livre para a manipulação da artéria aorta. É uma cirurgia um pouco mais delicada, porque operamos o coração com ele batendo, mas, ao mesmo tempo, livra o paciente de algumas outras complicações, acelerando a recuperação”, acrescentou a especialista.
O caso foi avaliado criteriosamente por uma equipe multidisciplinar, garantindo que a intervenção fosse a melhor opção para o paciente. Segundo a Dra. Paula Lago, a decisão de operar o coração de Reinaldo sem circulação extracorpórea foi tomada pela equipe de cardiologia, em uma análise detalhada de seu quadro clínico e dentro dos protocolos médicos recomendados.
“No caso dessa cirurgia, o paciente tem uma doença muito grave, então é uma indicação bem precisa, não saindo fora de qualquer protocolo. Pois é uma discussão baseada em evidências, uma discussão em Heart Team, que é o time da cardiologia toda conjunta. É uma exceção, mas que foi a primeira de muitas que ainda faremos para beneficiar a população de Roraima”, ressaltou.
Para Reinaldo, a experiência foi transformadora, e ele faz questão de tranquilizar quem precisar passar pelo mesmo procedimento. “Quando você entra na sala de cirurgia, dorme e, quando acorda, já está tudo feito. Então, eu digo para quem precisar que pode ir tranquilo, confiar nos médicos, que não tem perigo nenhum”, tranquilizou Reinaldo.
Fonte: portal.rr.gov.br