Não sindicalizado vai sofrer
mais com reforma trabalhista
Entrada em vigor da nova legislação, a partir de novembro, vai ampliar o fosso salarial dos não sindicalizados; quem é sindicalizado ganha 33,5%, na média, mais que os não sindicalizados
As novas regras trabalhistas devem aprofundar a diferença salarial entre trabalhadores sindicalizados e não sindicalizados, na visão do pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) André Gambier Campos. Segundo estudo coordenado por ele, sindicalizados ganham 33,5%, na média, mais que os não sindicalizados.
De acordo com o estudo recém-publicado, em setembro de 2015, enquanto os trabalhadores não sindicalizados ganhavam, em média, R$ 1.675,68, os associados a sindicatos ganhavam R$ 2.237,86. O pesquisador usou dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O contraste também pode ser observado nas remunerações indiretas dos trabalhadores: 36% dos sindicalizados recebem auxílio-saúde, contra 20,3% dos não sindicalizados; 63,9% dos trabalhadores sindicalizados têm acesso ao auxílio-alimentação, ante 49,3% dos não sindicalizados e no caso do auxílio-transporte, os índices são de 54,4% e 49,1%, respectivamente.
Campos disse que, à primeira vista, essas diferenças entre as remunerações não são esperadas, uma vez que, historicamente no Brasil, todos os trabalhadores devem contribuir para a sua organização sindical, pagando taxas obrigatórias, e todos são contemplados pelos acordos coletivos.
Com a reforma trabalhista, que entra em vigor em novembro, o imposto sindical, que equivale ao valor de um dia de trabalho, passa a ser facultativo. “Com a reforma trabalhista, essa desigualdade interna no mercado tende a se aprofundar”, disse o pesquisador. Segundo ele, em países com liberdade sindical, essa diferença é comum.
No Brasil, explicou o pesquisador, ainda não são claros os motivos que levam a uma diferença nas remunerações a partir da filiação aos sindicatos. A hipótese com a qual os pesquisadores do Ipea trabalham é de que, em países como o Brasil, quem se sindicaliza são os trabalhadores mais qualificados e engajados socialmente. Por um caminho ou por outro, o roteiro traçado por esses profissionais tem reflexo sobre suas remunerações.
“A hipótese clássica é que quem se sindicaliza em países como o Brasil não são os trabalhadores na base da pirâmide. Geralmente, são os trabalhadores mais qualificados, mais engajados a causas sociais ou trabalhistas. Por uma série de fatores, a trajetória dessas pessoas no mercado de trabalho afeta os seus salários”, destacou.
SINDIPETRO / O presidente do Sindipetro (Sindicato dos Frentistas de Marília, Lins, Garça e Região), Fábio Gonzales, destaca que é muito importante o trabalhador se informar com relação ao papel dos sindicatos. “A partir de novembro vai ser cada um por si e quem não estiver sindicalizado, não terá mais a representatividade do sindicato, que tem força de negociação. Por isso temos orientado os nossos trabalhadores a se manterem unidos, para ter maior poder de defesa contra eventuais abusos patronais”, ressaltou.