Pelo menos 14 agentes de forças de segurança foram mortos no oeste da Síria durante a noite entre quarta (25) e quinta-feira (26) em uma “emboscada” pelas antigas forças do presidente deposto Bashar al-Assad, disse o Ministério do Interior nesta quinta.
O ataque no interior da região de Tartus também feriu 10 oficiais, de acordo com a pasta. Ele ocorreu horas depois que o comando de operações militares do novo governo afirmou que suas forças mataram “um grupo sitiado de remanescentes do antigo regime” na mesma área.
A emboscada é o primeiro grande ataque conhecido por partidários de Assad desde sua deposição há menos de três semanas
Isso se soma aos testes para a nova administração da Síria, incluindo protestos de minorias religiosas preocupadas com seus direitos sob um governo islâmico e uma nova ocupação militar israelense do território sírio no sul.
As novas autoridades estabeleceram um prazo para que as forças e gangues do antigo regime entreguem suas armas, menos de três semanas depois que Assad fugiu do país enquanto os rebeldes avançavam sobre a capital Damasco.
O comando de operações militares da Síria pontuou que forças adicionais foram mobilizadas “para estabelecer a segurança e responsabilizar os remanescentes do antigo regime que estão tentando desestabilizar a segurança e aterrorizar as pessoas em algumas áreas da costa síria”.
“Não toleraremos nenhuma gangue criminosa que busque minar a segurança e a proteção do nosso povo”, advertiu o diretor de segurança pública em Latakia, uma província ocidental na costa mediterrânea do país, à agência de notícias estatal SANA na quarta-feira.
Devolução de armas por forças de Assad
Imagens da agência de notícias Agence France-Presse filmadas no início da semana passada mostraram as forças de segurança do antigo regime de Assad entregando suas armas ao governo de transição ligado aos rebeldes em Latakia.
A mídia estatal síria relatou que outras cidades na Síria, como Daraa, implementaram esquemas semelhantes para devolução de armas.
As novas autoridades também emitiram cartões temporários às forças do antigo regime para dar a eles liberdade de movimento na Síria enquanto seus “processos legais são concluídos”, de acordo com um aviso postado do lado de fora do escritório do governo, que pode ser visto no vídeo da AFP.
O aviso não deu mais detalhes sobre os procedimentos legais.
O regime de Assad e as forças sírias que serviram seu governo foram responsáveis por muitos casos de violência ao reprimir a dissidência política, incluindo tortura e maus-tratos a prisioneiros.
Mais de 306 mil civis na Síria foram mortos entre o início da guerra civil em 2011 e março de 2021, de acordo com a estimativa mais recente da ONU.
Protestos na Síria pós-Assad
Na quarta-feira, vídeos nas redes sociais mostraram protestos ocorrendo na província de Latakia. A CNN não pôde verificar os vídeos de forma independente.
As manifestações ocorreram no mesmo período em que um vídeo que mostraria a profanação de um local em Aleppo que parte da comunidade alauíta reivindica como um santuário começou a circular nas redes sociais .
O novo Ministério do Interior emitiu uma declaração reconhecendo o incidente, mas potuou que ocorreu semanas atrás e que os perpetradores são desconhecidos.
A comunidade alauíta da Síria, que vive predominantemente em áreas costeiras, foi impulsionada para cargos políticos, sociais e militares importantes durante o governo de Assad e do pai e antecessor dele, Hafez.
O vídeo mostra fogo dentro do santuário enquanto quatro corpos estão do lado de fora no chão, cercados por várias pessoas armadas.
“Confirmamos que o vídeo que circula é um vídeo antigo que remonta ao período da libertação da cidade de Aleppo, feito por grupos desconhecidos, e que nossas agências estão trabalhando dia e noite para preservar propriedades e locais religiosos”, explicou o ministério do interior.
“O objetivo de republicar tais clipes é incitar conflitos entre o povo sírio neste estágio sensível”, adicionou.
Entenda o conflito na Síria
O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.
O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.
A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.
O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.
Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.
Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.
A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.
Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.
Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.
*Pauline Lockwood, Mostafa Salem e Lauren Kent, da CNN, contribuíram para esta reportagem
Fonte: www.cnnbrasil.com.br