A sonda robótica Athena fez sua descida final e pousou na superfície da Lua, marcando a segunda alunissagem de uma empresa dos EUA nesta semana. No entanto, a orientação do módulo ainda é desconhecida.
A empresa Intuitive Machines, com sede em Houston, que no ano passado se tornou a primeira companhia privada a pousar um veículo suavemente na Lua, informou que a espaçonave Athena deveria tocar o solo lunar por volta das 11h31 (horário central dos EUA) e 12h31 (horário do leste dos EUA) nesta quinta-feira (6).
A empresa confirmou que Athena está na Lua e que a equipe de controle da missão conseguiu se comunicar com a sonda durante a transmissão ao vivo do evento, realizada em parceria com a NASA.
“A equipe está no processo de desligar sistemas que não são necessários”, disse Josh Marshall, diretor de comunicações da Intuitive Machines. “Estamos trabalhando para descobrir a orientação do veículo, o que é importante, porque isso afeta nossos sistemas de antena, determinando a qualidade do sinal e quando poderemos começar a receber dados sobre a saúde do veículo e imagens que nos ajudarão a confirmar o pouso.”
Além disso, o veículo está detectando o movimento da Lua, explicou Tim Crain, diretor de tecnologia da Intuitive Machines.
“Estamos na superfície. Agora, vamos avaliar.”
Se bem-sucedida, a sonda Athena, com 4,6 metros de altura, terá se juntado a outro módulo lunar desenvolvido por uma empresa texana — a Firefly Aerospace, sediada em Cedar Park, nos arredores de Austin — na superfície da Lua.
O veículo Blue Ghost, da Firefly, pousou com segurança e na posição vertical na manhã de domingo (2).
Tanto Athena quanto Blue Ghost devem operar no lado próximo da Lua, mas os dois módulos estarão separados por aproximadamente 3.200 quilômetros. O Blue Ghost pousou próximo ao equador lunar, enquanto a Athena está situada perto do polo sul lunar — mais próximo do que qualquer astronauta ou veículo já esteve antes.
As alunissagens são desafios extremamente complexos. Cerca de metade de todas as tentativas, incluindo as realizadas por agências espaciais governamentais e empresas privadas, terminaram em fracasso.
Na madrugada de quinta-feira, a Athena completou uma queima de motor que a colocou em uma trajetória de saída da órbita lunar em direção à superfície, segundo a Intuitive Machines. Em seguida, o módulo entrou em um período de coast (deslocamento sem propulsão) por cerca de uma hora. Depois, iniciou sua descida final, utilizando sensores e câmeras para navegar pelo terreno repleto de crateras.
Durante essa fase, a sonda reduziu sua velocidade drasticamente, diminuindo cerca de 6.400 km/h (1.800 metros por segundo) antes de tocar o solo lunar.
O polo sul da Lua é considerado uma região crucial na atual corrida espacial, pois os cientistas acreditam que há grandes depósitos de gelo de água. Esse gelo poderia ser convertido em água potável, oxigênio respirável ou até combustível para foguetes, viabilizando missões ainda mais profundas no espaço.
A Athena deveria pousar em um planalto de 100 km de diâmetro, chamado Mons Mouton, localizado a aproximadamente 160 km do polo sul lunar.
A missão da Athena tem um caráter exploratório. O módulo usará um conjunto de equipamentos robóticos — incluindo um broca, um hopper (veículo saltador) e um rover — para analisar a área e confirmar a presença de gelo de água na região.
O lander deverá operar por 10 dias, até que a chegada da noite lunar o mergulhe na escuridão, tornando-o inoperante.
Uma chance de redenção
Antes de a Intuitive Machines fazer história no ano passado com o pouso bem-sucedido de seu primeiro lander, o Odysseus (apelidado de “Odie” pela equipe), apenas algumas agências espaciais governamentais haviam conseguido essa façanha. Até então, Estados Unidos, China, Índia, Japão e a antiga União Soviética eram os únicos a realizar alunissagens bem-sucedidas.
Mas a jornada de Odie, que também explorou a região próxima ao polo sul lunar, não foi perfeita. Antes do pouso, as equipes da missão descobriram que o altímetro a laser, projetado para ajudar na navegação pelo terreno lunar e medir com precisão a altitude, não estava corretamente conectado.
Esse erro obrigou a Intuitive Machines a depender de uma carga útil experimental da NASA, que por sorte estava a bordo, para fornecer suporte de navegação até a superfície lunar.
No final, Odie tombou de lado durante o pouso, deixando suas antenas de comunicação e painéis solares mal posicionados. Como consequência, o lander desligou-se dias antes do previsto, reduzindo o tempo de operação da missão.
A Firefly Aerospace fez uma breve referência à orientação incorreta de Odie durante a transmissão ao vivo de seu próprio pouso lunar nesta semana, ao declarar que seu módulo Blue Ghost foi o “primeiro veículo comercial totalmente bem-sucedido” a pousar na Lua.
Ainda assim, as duas empresas demonstraram apoio mútuo.
“Vou te dizer algo que é mais empolgante agora do que em qualquer outro momento da história: o número de missões indo para a Lua”, disse Steve Altemus, CEO da Intuitive Machines, à CNN em fevereiro. “Duas empresas do Texas enviando módulos de pouso para a Lua, que teoricamente estarão operando simultaneamente em missões diferentes — isso é simplesmente incrível para os Estados Unidos.”
A Firefly e a Intuitive Machines são ambas contratadas da NASA por meio do programa Commercial Lunar Payload Services (CLPS). O objetivo do CLPS é incentivar a indústria privada a desenvolver naves robóticas de baixo custo para explorar a superfície lunar antes da chegada dos astronautas da NASA, prevista para o final desta década.
A missão Artemis III da NASA tem como objetivo aterrar seres humanos na Lua pela primeira vez em mais de cinquenta anos, com previsão para meados de 2027.
Missão da Athena na Lua
Poucas horas após o pouso, o Athena deve liberar um rover chamado Mobile Autonomous Prospecting Platform (MAPP), desenvolvido pela empresa Lunar Outpost, com sede no Colorado. O rover de 4 rodas e 10 kg tem várias funções, incluindo:
- Testar novos equipamentos de comunicação celular;
- Criar um mapa 3D da superfície lunar;
- Tirar fotografias.
O rover também foi projetado para coletar uma pequena amostra de solo lunar. Embora a amostra, assim como o rover MAPP, permaneça na Lua indefinidamente, a NASA concordou em pagar simbólicos $1 para assumir a propriedade da amostra. Este gesto representa a primeira venda comercial de recursos espaciais na história.
O CEO da Lunar Outpost, Justin Cyrus, disse à CNN que o $1 da NASA é o único financiamento governamental que a empresa receberá para esta missão.
“Esta é a nossa primeira tentativa, e o fato de que este rover é totalmente financiado comercialmente com literalmente $1 da NASA… isso já é um ótimo ponto de partida,” disse Cyrus.
Após o lançamento do MAPP, o lander Athena liberará um hopper em miniatura — um tipo de nave projetada para saltar para fora do local de pouso e explorar uma cratera lunar em busca de água. Esse veículo foi desenvolvido pela Intuitive Machines com financiamento da NASA.
No entanto, a carga útil principal a bordo da Athena é a broca PRIME-1 da NASA, que foi projetada para perfurar a superfície lunar, procurar gelo de água e analisar o solo enquanto avança.
Se a PRIME-1 conseguir localizar água logo abaixo da superfície lunar, isso seria “extremamente empolgante”, afirmou Siegfried Eggl, professor assistente de engenharia aeroespacial da Universidade de Illinois Urbana-Champaign, à CNN esta semana.
“Se a broca encontrar um pouco de material rico em água logo (perto) da superfície, isso seria o cenário ideal,” disse Eggl. “Porque isso significaria que, onde quer que você vá no polo sul, você não precisaria descer até as crateras. Você provavelmente poderia extrair água de forma muito rápida.”
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Fonte: www.cnnbrasil.com.br