O sucesso do filme “Ainda Estou Aqui”, premiado no Oscar no último domingo (2), motivou a apresentação de propostas legislativas no Congresso Nacional. As matérias incluem projetos de incentivo ao cinema nacional, além de homenagens relacionadas ao longa-metragem.
O primeiro secretário da Câmara, deputado Carlos Veras (PT-PE) apresentou projeto que cria a “Lei Ainda Estou Aqui”, que estabeleceria o Cadastro Nacional de Cinemas Tradicionais. Esses espaços que seriam registrados, também conhecidos como cinemas de rua, deverão exibir obras cinematográficas brasileiras premiadas.
Segundo o autor, a proposta busca ampliar o acesso a filmes nacionais premiados e tem a intenção de fortalecer o “patrimônios cultural e artístico nacionais”. Veras afirma, na justificativa do projeto, que a lei permitira às salas de cinemas tradicionais “condições para que disputem de maneira mais justa com as grandes redes comerciais, promovendo diversidade e equilíbrio no mercado cinematográfico”.
A proposta foi apresentada na semana passada e ainda deve receber um despacho para análise nas comissões da Câmara.
Obrigação
Em outra frente, a deputada delegada Adriana Accorsi (PT-GO) apresentou projeto que obriga a exibição do filme “Ainda Estou Aqui” nas escolas de ensino médio da rede pública e privada, “como parte integrante do programa pedagógico voltado à conscientização sobre temas sociais, históricos e de direitos humanos”.
A produção, do diretor Walter Salles, conta a história de luta da família Paiva após o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva durante a ditadura militar, em 1971. A obra recebeu o Oscar de Melhor Filme Internacional, uma conquista inédita para o Brasil. A atriz Fernanda Torres também recebeu o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama pela a interpretação de Eunice Paiva, a viúva de Rubens.
O filme foi lançado no Brasil em novembro do ano passado e já ultrapassou a marca de mais de 5 milhões de espectadores e arrecadou R$ 104,7 milhões em renda.
O longa é uma adaptação do livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens. A deputada Juliana Cardoso (PT-SP) apresentou uma indicação para que o Ministério da Educação distribua o livro nas escolas das redes públicas de educação básica.
As propostas apresentadas têm maior incidência entre congressistas de partidos de esquerda ou da base aliada do governo, enquanto integrantes da oposição têm adotado o silêncio sobre o sucesso do filme. Representantes da direita, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), optaram por não comentar sobre a premiação do filme.
No Senado, o líder do PT, senador Rogério Carvalho (SE), protocolou um projeto para incluir o nome de Rubens Paiva no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, que fica no Panteão da Pátria, na Praça dos Três, em Brasília.
Homenagens
Deputados e senadores também apresentaram requerimentos de sessões solenes e moções de louvor em homenagem ao cinema nacional, ao elenco e direção do filme “Ainda Estou Aqui” e em especial à família Paiva. Os pedidos tiveram a autoria ou apoio de parlamentares do PT, PSB, PSD e MDB.
No Senado, pedidos para a realização de uma sessão especial, apresentados pelos senadores Randolfe Rodrigues (PT-AP) e Leila Barros (PDT-DF), foram aprovados.
Em dezembro, como a CNN mostrou, a Câmara dos Deputados homenageou com a Medalha Mérito Legislativo a atriz Fernanda Torres, a advogada Eunice Paiva (in memoriam) e o escritor Marcelo Rubens Paiva. A premiação é feita anualmente e é designada por líderes partidários e integrantes da Mesa Diretora.
Segundo a Secretaria de Regulação da Ancine (Agência Nacional do Cinema), “Ainda Estou Aqui” se consolidou como a terceira maior bilheteria nacional desde 2018, atrás apenas de “Minha Mãe é uma Peça 3” (2018) e “Nada a Perder” (2019).
Como a CNN mostrou, a visibilidade da obra se refletiu no desempenho do mercado audiovisual como um todo. Só em 2025, o filme já é responsável por 32% do público de filmes nacionais, contribuindo para um market share de 30,1% do cinema brasileiro no período. Sem “Ainda Estou Aqui” a participação cairia para 22,1%.
Judiciário
Além de impulsionar o mercado cinematográfico brasileiro e propostas no Legislativo, o sucesso do filme de Walter Salles motivou o avanço do processo envolvendo a morte do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado durante a ditadura militar.
Em 21 de fevereiro, todos os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) votaram para analisar uma ação penal sobre a morte do ex-deputado. Além dele, a Corte poderá incluir no mesmo processo outras duas vítimas do regime.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br