Em seu discurso de posse no sábado (1º), o novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), recordou a atuação de Ulysses Guimarães (1916-1992) no decorrer da Assembleia Nacional Constituinte que resultou na Constituição de 1988.
“A memória de Ulysses deve iluminar corações e mentes nestes tempos difíceis. Pontificou Ulysses: ‘Se a democracia é o governo da lei, não só elaborá-la, mas também para cumpri-la são governo o Executivo e o Legislativo’. Repito Ulysses: são governo o Executivo e o Legislativo”, disse Motta.
Ao erguer exemplar da Constituição Cidadã, o deputado paraibano repetiu gesto de Ulysses Guimarães na sessão de promulgação da Carta Magna, em 5 de outubro de 1988.
“Na inauguração da nova constituição, no mesmo célebre discurso, [Ulysses] pronunciou a frase que ainda ecoa nestas galerias: ‘Tenho ódio e nojo à ditadura’”. Ao repetir a fala do histórico líder da redemocratização, Motta foi aplaudido pelo plenário da Câmara.
Na sequência, o novo líder da Casa afirmou que “não existe ditadura com Parlamento forte” e que “o primeiro sinal de todas as ditaduras é minar e solapar todos os parlamentos”.
“Por isso, temos de lutar pela democracia. E não há democracia sem imprensa livre e independente. Lutamos pela harmonia e independência entre os Poderes, porque defendemos a democracia. Lutamos pela democracia, somos frutos da democracia”, acrescentou.
Quem foi Ulysses Guimarães
Ulysses Silveira Guimarães nasceu em 6 de outubro de 1916 em Rio Claro, interior de São Paulo.
Foi deputado à Constituinte estadual de São Paulo de 1947 pelo Partido Social Democrático (PSD), além de ter exercido 11 mandatos consecutivos como deputado federal, de 1951 a 1992, quando morreu em um acidente aéreo.
Foi ministro da Indústria e Comércio em 1961, no gabinete do primeiro-ministro Tancredo Neves. Apoiou a deposição do então presidente João Goulart em 1964, mas logo aderiu ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição, cuja Presidência assumiu em 1970, liderando-o até sua extinção.
Com o fim do bipartidarismo em 1979, fundou o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e foi seu primeiro presidente.
Em 1973, foi anticandidato à Presidência da República, em oposição ao General Ernesto Geisel, candidato do regime militar.
Teve forte atuação no movimento das Diretas Já, em meados da década de 1980. À época, sua atuação lhe garantiu o apelido de “Senhor Diretas”.
Exerceu a Presidência da Câmara dos Deputados em três períodos (1956-1957, 1985-1986 e 1987-1988) e, cumulativamente, da Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988), função na qual promulgou a atual Constituição Federal.
Candidatou-se à Presidência da República em 1989, mas não obteve sucesso. Morreu em 12 de outubro de 1992, quando o helicóptero que viajava de Angra dos Reis (RJ) para São Paulo caiu em alto-mar. Seu corpo nunca foi encontrado.
“Ainda Estou Aqui”
Na conclusão de seu discurso de pouco mais de 20 minutos, Motta fez menção ao filme brasileiro “Ainda Estou Aqui”, que retrata a história do ex-deputado federal Rubens Paiva (PTB-SP) — desaparecido e morto na ditadura militar. O longa recebeu três indicações ao Oscar 2025.
“Temos que estar sempre do lado do Brasil, em harmonia com os demais Poderes. Encerro com uma mensagem de otimismo: ainda estamos aqui”, encerrou o parlamentar.
Motta fez parte da militância política do MDB, partido o qual foi filiado por mais de uma década. Em 2018, no entanto, deixou a sigla para se juntar ao Republicanos, à época chamado de Partido Republicano Brasileiro (PRB).
Ao derrotar Marcel van Hattem (Novo-RS) e Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), Motta levou o Republicanos à Presidência da Câmara pela primeira vez na história do partido.
*Com informações de Maria Clara Matos e da Agência Câmara
Fonte: www.cnnbrasil.com.br