A Ucrânia lançou um contra-ataque na região de fronteira sul da Rússia, em Kursk, pontuando que o país vizinho está “recebendo o que merece”.
Andrii Kovalenko, chefe do Centro Ucraniano de Combate à Desinformação, um órgão oficial, disse que as forças ucranianas lançaram ataques surpresa contra as tropas russas em vários locais em Kursk, meses após lançar a incursão na região.
Em uma curta postagem no Telegram neste domingo (5), o chefe do gabinete presidencial ucraniano, Andriy Yermak, afirmou: “Região de Kursk, boas notícias, a Rússia está recebendo o que merece”.
Os militares ucranianos lançaram uma incursão nessa área pela primeira vez em agosto de 2024 e mantiveram grande parte do território que tomaram, apesar dos esforços de soldados russos e norte-coreanos para expulsar os invasores.
O Ministério da Defesa russo informou que os ucranianos lançaram contra-ataques para impedir uma ofensiva russa, de acordo com a agência de notícias oficial TASS.
A pasta ressaltou que eles foram repelidos, acrescentando que um ataque ucraniano incluindo dois tanques e sete veículos blindados foi derrotado perto da vila de Berdin, a cerca de 15 quilômetros da fronteira.
A CNN não pôde verificar os relatos do campo de batalha.
Ofensiva da Ucrânia em Kursk
A ofensiva de Kursk — a primeira invasão terrestre contra a Rússia por uma potência estrangeira desde a Segunda Guerra Mundial — pegou a Rússia e os aliados da Ucrânia de surpresa quando foi lançada.
As tropas de Kiev avançaram rapidamente, embora a Rússia eventualmente tenha começado a empurrar suas forças para trás. De toda forma, a linha de controle não mudou drasticamente nos últimos meses.
No sábado (4), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que o Exército russo perdeu até um batalhão de soldados norte-coreanos e paraquedistas russos em batalhas perto da vila de Makhnovka. Um batalhão normalmente tem várias centenas de soldados.
Blogueiros russos relatam avanço da Ucrânia em Kursk
Blogs militares russos não oficiais, mas que geralmente fornecem relatos confiáveis sobre o conflito na Ucrânia, reconheceram a luta deste domingo. Um deles afirmou que os ucranianos estavam avançando para o norte, em direção a Berdin.
“O inimigo lançou reservas para a ofensiva na região de Kursk”, observou uma página.
“Para o avanço, a AFU cobriu a área com poderosos sistemas de guerra eletrônica de rádio, dificultando o trabalho de nossos UAVs [drones]. Há batalhas com armas pequenas, nossa artilharia e tanques estão trabalhando ativamente contra o inimigo”, adicionou.
Um segundo blogueiro publicou um relato semelhante, dizendo que a ofensiva havia começado na área de Sudzha, mas os ucranianos também desembarcaram paraquedistas e intensificaram os combates em outras direções.
“Nesta ofensiva, o inimigo usa redes de arrasto de remoção de minas, tanques e outros veículos blindados”, pontuou, acrescentando que o solo gelado estava permitindo o ataque, mas não era esperado que ele durasse. Adicionou ainda que bombardeiros russos estão em ação.
Presença de militares da Coreia do Norte em Kursk
Avaliações feitas pela Ucrânia e por outros países do Ocidente indicam que cerca de 11 mil soldados da Coreia do Norte estão posicionados na região de Kursk, onde as forças ucranianas ocupam partes do território.
O presidente russo, Vladimir Putin, se recusou a dizer quando a Rússia recapturaria a região sul de Kursk após uma pergunta por telefone em entrevista coletiva de fim de ano no mês passado.
“Nossos rapazes estão lutando, há uma batalha acontecendo agora, e batalhas sérias. Não está claro o porquê, não havia sentido militar nas Forças Armadas Ucranianas entrando na região de Kursk, ou mantendo-se lá agora como estão fazendo, jogando suas melhores unidades lá para serem massacradas”, ponderou Putin.
Um possível motivo por trás da decisão de Kiev de entrar na Rússia foi melhorar sua posição antes de quaisquer potenciais negociações futuras de cessar-fogo.
O novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que encerraria a guerra “em 24 horas”, mas não detalhou como, e hesitou sobre a futura ajuda militar à Ucrânia.
Na semana passada, Zelensky ressaltou que os militares norte-coreanos estavam enfrentando perdas severas e acusou a Rússia de enviá-los ao campo de batalha com “proteção mínima”.
Entenda a guerra entre Rússia e Ucrânia
A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 e entrou no território por três frentes: pela fronteira russa, pela Crimeia e por Belarus, país forte aliado do Kremlin.
Forças leais ao presidente Vladimir Putin conseguiram avanços significativos nos primeiros dias, mas os ucranianos conseguiram manter o controle de Kiev, ainda que a cidade também tenha sido atacada. A invasão foi criticada internacionalmente e o Kremlin foi alvo de sanções econômicas do Ocidente.
Em outubro de 2024, após milhares de mortos, a guerra na Ucrânia entrou no que analistas descrevem como o momento mais perigoso até agora.
As tensões se elevaram quando o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou o uso de um míssil hipersônico de alcance intermediário durante um ataque em solo ucraniano. O projétil carregou ogivas convencionais, mas é capaz de levar material nuclear.
O lançamento aconteceu após a Ucrânia fazer uma ofensiva dentro do território russo usando armamentos fabricados por potências ocidentais, como os Estados Unidos, o Reino Unido e a França.
A inteligência ocidental denuncia que a Rússia está usando tropas da Coreia do Norte no conflito na Ucrânia. Moscou e Pyongyang não negam, nem confirmam o relato.
O presidente Vladimir Putin, que substituiu seu ministro da Defesa em maio, disse que as forças russas estão avançando muito mais efetivamente – e que a Rússia alcançará todos os seus objetivos na Ucrânia, embora ele não tenha dado detalhes.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse acreditar que os principais objetivos de Putin são ocupar toda a região de Donbass, abrangendo as regiões de Donetsk e Luhansk, e expulsar as tropas ucranianas da região de Kursk, na Rússia, das quais controlam partes desde agosto.
*Rob Picheta, Gawon Bae, Victoria Butenko, Edward Szekeres e Kostyantyn Hak, da CNN, contribuíram com a reportagem
Fonte: www.cnnbrasil.com.br