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UFABC é denunciada ao MP por apoiar estudante que ficou cega em protesto

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Professores da universidade criaram um abaixo-assinado em defesa da democracia, tolerância e solidariedade

Júlia Dolce
Brasil de Fato | São Paulo (SP), originalmente publicada em 20 de Outubro de 2016
Estudante Deborah Fabri, no momento, em que foi atingida por estilhaços de bomba atirada pela Polícia Militar, em um protesto contra o golpe - Créditos: Reprodução
Estudante Deborah Fabri, no momento, em que foi atingida por estilhaços de bomba atirada pela Polícia Militar, em um protesto contra o golpe / Reprodução

O Ministério Público Federal (MPF) acolheu uma denúncia feita contra a reitoria da Universidade Federal do ABC (UFABC) por ter prestado assistência à Deborah Fabri, estudante da universidade que perdeu a visão de um olho ao ser atingida por um estilhaço de bomba durante a repressão da Polícia Militar ao protesto contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, no dia 31 de agosto.

Um abaixo-assinado em solidariedade à UFABC foi criado pelos professores da universidade  (18/10).

O documento, intitulado Em defesa da democracia, da tolerância e da solidariedade na UFABC, já foi assinado por mais de 1.500 pessoas e tem a meta de acumular 2.500 assinaturas em repúdio às atitudes de intolerância e “apelar para o bom senso da comunidade acadêmica”.

A denúncia, que os professores acreditam ter vindo de um aluno que compartilhou mensagens de ódio e preconceito nas redes sociais, foi acolhida preliminarmente pelo MPF, que deu início aos procedimentos judiciais contra a universidade.

Ajuda

A acusação diz respeito à atitude de gestores da UFABC de providenciar ajuda a Deborah e aos seus familiares, que viajaram do interior de Minas Gerais para São Paulo (SP) quando ficaram sabendo da agressão.

A reitoria da universidade providenciou um carro que levou os pais da jovem da rodoviária até o hospital onde já se encontrava internada, e enviou um profissional integrante do quadro de servidores da UFABC para prestar apoio psicológico à ela.

A atitude, que, segundo a gestão, teve um custo calculado em R$ 14 referentes ao combustível consumido pelo carro utilizado, foi motivo de acusação por “mau uso” de recursos da instituição e de “desvio” de suas funções. Em um trecho do abaixo-assinado, os professores afirmam se orgulhar “de a universidade ter sido solidária com a dor de um de seus integrantes, prestando ajuda humanitária que era requerida no momento”.

“Consideramos que esse tipo de apoio deve ser uma diretriz de ação de UFABC frente à sua comunidade em situações de fragilidade de seus membros, respeitando suas possibilidades institucionais e racionalidade de seus recursos”, completa o documento.

Segundo o professor de Relações Internacionais Igor Fuser, “com raras exceções, a comunidade universitária da UFABC – professores, funcionários técnico-administrativos e estudantes – tem se expressado de diversas maneiras em solidariedade a Deborah e à generosa atitude da Reitoria”.

Tatiana Berringer, que também é professora da UFABC e bacharel em Relações Internacionais, a denúncia ao MP faz parte de um contexto repressor contra às origens e valores da universidade.

“A instituição completou dez anos no último mês, mas como qualquer espaço, alguns grupos à direita começaram a crescer na universidade e têm atacado a reitoria, chegando ao ponto de atacar o mínimo apoio que prestamos nesse momento”, explicou.

Segundo ela, o grupo que denunciou se chama “Universidade Livre”, e tem realizado alguns eventos na universidade, como um com a presença de Kim Kataguiri e Fernando Holiday, do Movimento Brasil Livre, e outro com Luiz Philippe de Orleans e Bragança, um descendente da “família real” no Brasil.

“Eles acusam a universidade de ser doutrinária e esquecem que cada um tem um lado, e que a universidade é um local de debate e disputa de ideias”, acrescentou Berringer.

Segundo Ivan Filipe de Almeida Lopes Fernandes, professor de políticas públicas da UFABC, e membro do grupo Universidade Livre, o grupo não tem nenhuma relação com a denúncia. “Inclusive eu e outros membros do Universidade Livre assinamos o abaixo assinado contra a denúncia”, disse. O professor afirmou ainda que os responsáveis pela denúncia são estudantes que formaram um outro grupo, chamado “UFABC Livre”.

Contexto

Segundo a professora, a situação é um reflexo da disputa política que o país tem passado. “Mais do que isso, a UFABC recebeu muito investimento e ainda precisa crescer para terminar seu projeto, ter o espaço físico necessário. Mas os cortes do governo Temer vão afetar brutalmente a universidade, não apenas nos investimentos, mas no custeio. A expectativa é que, se de fato for aprovada a PEC 241 no Congresso, a UFABC vai fechar no próximo ano”.

Uma assembleia realizada nesta quinta-feira (20) aprovou a paralisação dos professores da UFABC a partir da próxima segunda-feira (24), um posicionamento contra a PEC 241.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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