É grave o episódio no qual o governo revogou a fiscalização da Receita sobre o Pix. Não estou falando do poder de uma informação falsa, a de que o Pix seria taxado, estou falando do grau de desconfiança que o episódio expôs.
O governo diz que não vai taxar o Pix? Milhões de pessoas não acreditam. Acham que o monitoramento dessa ferramenta é só desculpa.
O governo diz que vai ser equilibrado no trato das contas públicas? Os agentes econômicos não acreditam. Acham que o governo só vai tentar arrecadar mais, para poder gastar mais. Desconfiança é coisa muito séria em política e economia.
O governo prefere acreditar que o problema é de marketing mal-executado. Mas não é.
Quando o próprio Lula veio a público desmentir a fake news sobre o Pix, a onda cresceu ainda mais. Pois mentiras ganham força quando o que afirmam parece plausível, possível, provável.
Nesse sentido, o comportamento de milhões que acreditaram numas fake news é o mesmo que o comportamento de enorme número de agentes econômicos que correram para o dólar.
Uns acham que os fatos recentes indicam que o governo só quer isso mesmo: taxar e arrecadar. Outros acham que os fatos recentes indicam que o governo só fala, mas não corta gastos, piorando a questão fiscal; portanto, inflação, juros altos e dólar caro.
No fundo, o que estamos vendo não é tanto uma crise causada por fake news – embora também seja – mas uma crise causada por perda de credibilidade.
Não adianta culpar o marketing. O problema é a essência.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br