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O Congo além das hashtags

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Ruth Mudingayi
04/04/2024


Jogadores da RD Congo fazem protesto sobre massacre no leste do país | Band
Re­pro­dução

En­quanto as redes so­ciais têm am­pli­fi­cado os apelos por jus­tiça so­cial em partes do mundo há muito ig­no­radas, isso deve ser apenas o início de nosso ati­vismo.

A Copa das Na­ções Afri­canas, re­a­li­zada em fe­ve­reiro na Costa do Marfim, viu a equipe na­ci­onal de fu­tebol do Congo, os Le­o­pardos, trazer re­no­vada es­pe­rança para a Re­pú­blica De­mo­crá­tica do Congo à me­dida que avan­çavam para as se­mi­fi­nais. En­quanto a equipe pro­gredia pelas di­fe­rentes etapas do tor­neio em Abidjan, a in­se­gu­rança no vo­látil leste do Congo au­men­tava, com o Mo­vi­mento de 23 de Março (M23) e ou­tros grupos mi­li­ci­anos am­pli­ando seus ata­ques vi­o­lentos na re­gião.

Os Le­o­pardos fi­zeram questão de de­nun­ciar os as­sas­si­natos, de­mons­traram so­li­da­ri­e­dade com as ví­timas du­rante os jogos e nas redes so­ciais – os jo­ga­dores fi­cavam em pé no campo, mol­davam os dedos de uma mão em forma de arma apon­tada para suas ca­beças en­quanto e co­briam suas bocas com a outra en­quanto to­cava o hino na­ci­onal –, fa­zendo uso de hash­tags para es­pa­lhar a men­sagem.

As redes so­ciais se tor­naram ins­tru­men­tais no apelo por jus­tiça so­cial em áreas do mundo que têm sido de­li­be­ra­da­mente ig­no­radas há dé­cadas. Hash­tags como #En­cer­rar­SARS, #Li­ber­tar­Pa­les­tina e #Tra­ga­Nos­sas­Me­ni­nas­De­Volta per­mi­tiram que pes­soas de todos os cantos do mundo for­ne­cessem in­sights sobre as­suntos glo­bais para os cu­ri­osos e em­pá­ticos.

Hash­tags an­tigas e novas sobre a si­tu­ação no Congo, por exemplo, têm cir­cu­lado há anos. #Con­go­Es­tá­San­grando e #OQue­Es­táA­con­te­cen­do­No­Congo sur­giram pela pri­meira vez em no­vembro de 2020 com os ata­ques re­no­vados do M23. Ata­ques mais re­centes em fe­ve­reiro de 2024 trou­xeram #Ru­an­da­Es­tá­Ma­tando e #Li­ber­te­mO­Congo para cada canto da in­ternet. Ca­nais de in­for­mação fluindo li­vre­mente são uma faca de dois gumes, no en­tanto – a vi­ra­li­dade bem-in­ten­ci­o­nada da men­sagem #Li­ber­te­mO­Congo também levou a um au­mento de in­for­ma­ções não ve­ri­fi­cadas que não apenas eli­minam o con­texto, mas con­flitam fatos sobre uma crise com­plexa e mul­ti­fa­ce­tada.

Um ponto per­ti­nente de con­fusão é a mol­dura da crise em torno dos mi­ne­ra­dores in­fantis. Ví­deos da crise de mi­ne­ração no Haut Ka­tanga fre­quen­te­mente são en­con­trados sob hash­tags usadas para de­nun­ciar a si­tu­ação no leste. A ri­queza mi­neral con­go­lesa tornou o país um farol para na­ções oci­den­tais ga­nan­ci­osas, lí­deres mun­diais e cor­po­ra­ções que acre­ditam que podem se ajudar, in­de­pen­den­te­mente das con­sequên­cias.

Em­bora haja uma de­manda por em­presas mul­ti­na­ci­o­nais de mi­ne­ração para “Li­bertar o Congo”, há al­guns pontos que devem ser en­fa­ti­zados para criar uma dis­tinção entre a guerra no leste do Congo e a des­ta­cada mi­ne­ração por cri­anças e a si­tu­ação pe­ri­gosa na pro­víncia de Haut Ka­tanga. Cor­rupção, go­ver­nança ir­res­pon­sável, leis de mi­ne­ração não apli­cadas e em­presas mul­ti­na­ci­o­nais de mi­ne­ração ga­nan­ci­osas são os mai­ores con­tri­buintes para a crise de mi­ne­ração na RDC. Elas se apro­vei­taram da eco­nomia, dei­xaram fa­mí­lias con­go­lesas em vi­la­rejos e até mesmo em grandes ci­dades como Li­kasi e Kolwezi for­çadas a aceitar tra­balho em torno de minas tó­xicas e in­se­guras que são então ven­didas de volta para as em­presas de mi­ne­ração. Este es­quema en­volve em­presas como a Congo Dong­fang Mi­ning (CDM), uma sub­si­diária in­te­gral da em­presa chi­nesa Zhe­jiang Hu­ayou Co­balt Ltd. É aqui que marcas como Apple, Dell e Mi­cro­soft se be­ne­fi­ciam do tra­balho in­fantil. O co­balto mi­ne­rado no Congo para a em­presa men­ci­o­nada for­nece às em­presas de tec­no­logia o in­sumo que lhes per­mite fa­bricar ba­te­rias de íon-lítio para seus dis­po­si­tivos.

A abun­dância de mi­ne­rais no solo da RDC – es­pe­ci­al­mente cobre e co­balto – é quase imen­su­rável, es­ti­mada em US$ 24 tri­lhões. Con­cen­trar-se na crise de mi­ne­ração ofe­rece ações tan­gí­veis e di­retas para mi­ni­mizar a ex­plo­ração tra­ba­lhista em curso (com­pro­meta-se a com­prar menos tec­no­logia que não seja re­con­di­ci­o­nada, por exemplo). Mas a con­fusão da crise da mi­ne­ração in­fantil no Haut Ka­tanga, em­bora cer­ta­mente in­for­mada pela guerra no leste do Congo, não é a causa nem a razão por trás dos as­sas­si­natos em massa ou da hashtag #Ru­an­da­Es­tá­Ma­tando. Os mi­ne­ra­dores in­fantis e ar­te­sa­nais em Kolwezi me­recem ter suas his­tó­rias con­tadas de forma clara e con­cisa, e não serem ofus­cados ou con­fun­didos com o con­flito no leste; isso sim­ples­mente per­mite que os ver­da­deiros agres­sores es­condam as mãos e es­capem da res­pon­sa­bi­li­dade por seus crimes em meio à con­fusão e à con­fla­gração. Dis­cutir a questão da mi­ne­ração é uma ma­neira muito mais sim­ples para a co­mu­ni­dade global en­tender a crise hu­ma­ni­tária na RDC; as pes­soas podem co­nectar as ima­gens de so­fri­mento aos dis­po­si­tivos que ali­mentam suas vidas diá­rias e, assim, en­tender a in­jus­tiça de tudo isso.

Honrar as his­tó­rias com­plexas das mu­lheres e dos ho­mens do leste do Congo re­quer en­gajar-se com uma his­tória sór­dida. Após o ge­no­cídio de tutsis em Ru­anda em 1994, o leste do Congo re­cebeu um in­fluxo de re­fu­gi­ados ru­an­deses, com tutsis e hutus cru­zando para o Congo (então co­nhe­cido como Zaire). Ale­ga­ções de que o In­te­rahamwe (per­pe­tra­dores hutus do ge­no­cídio) havia se in­fil­trado na po­pu­lação de re­fu­gi­ados e atra­ves­sado para o Congo com a au­to­ri­zação do di­tador con­golês Jo­seph Mo­butu le­varam o Front Pa­trió­tico Ru­andês (FPR), li­de­rado pelo co­man­dante Paul Ka­game, a cruzar para o Congo e re­cu­perar esses re­beldes hutus. Esta in­vasão ru­an­desa de 1996 ao leste do Congo levou à Pri­meira Guerra do Congo, na qual o FPR lutou ao lado de Uganda, Bu­rundi e da Ali­ança das Forças De­mo­crá­ticas de Li­ber­tação do Congo-Zaire (AFDL) de Lau­rent Ka­bila, um grupo re­belde lu­tando para li­vrar o Congo de Mo­butu.

A guerra deu a Ka­bila a pre­si­dência em 1997 e à Ru­anda e Uganda a li­ber­dade para operar nas pro­vín­cias de Ituri e Sul e Norte Kivu. Em 1998, Ka­bila re­negou os acordos que tinha com os países men­ci­o­nados e azedou as re­la­ções entre a RDC e seus vi­zi­nhos, pro­vo­cando uma re­be­lião tutsi e a Se­gunda Guerra do Congo, também co­nhe­cida como Guerra Mun­dial Afri­cana.

Houve vá­rias ten­ta­tivas de en­cerrar a guerra, desde o Acordo de Cessar-fogo de Lu­saka em 1999 até a ins­ta­lação de um go­verno de tran­sição em 2003 que co­locou Jo­seph Ka­bila como chefe de es­tado após o as­sas­si­nato de seu pai em 2001. No en­tanto, a in­sur­gência per­sistiu, e novos grupos mi­li­ci­anos pa­re­ciam brotar di­a­ri­a­mente, en­quanto a vi­o­lência con­ti­nuava a es­calar na re­gião. Grupos mi­li­ci­anos pas­sa­riam por mu­danças de li­de­rança e de nome; o Ras­sem­ble­ment Con­go­lais pour la Dé­mo­cratie (RCD) se di­vidiu em di­fe­rentes fac­ções com múl­ti­plos lí­deres. A guerra e a ins­ta­bi­li­dade per­mi­tiram o trans­porte ilegal de mi­ne­rais mi­ne­rados ar­te­sa­nal­mente para países vi­zi­nhos, dei­xando claro que os mo­tivos da in­vasão ti­nham pouco a ver com o In­te­rahamwe, mas tudo a ver com os mi­ne­rais en­con­trados na re­gião.

Paul Ka­game, o pre­si­dente de Ru­anda, e elo­giado pelo ex-pre­si­dente dos EUA, Bill Clinton, como “um dos mai­ores lí­deres de nosso tempo”, está no centro desta tem­pes­tade hu­ma­ni­tária. Foi sob suas di­re­trizes que o FPR li­derou uma in­vasão do leste do Congo sem im­pu­ni­dade em 1996 com o apoio do Reino Unido, França e EUA. O ob­je­tivo era e con­tinua sendo con­trolar e ex­plorar as re­servas de coltan: quan­ti­dades mí­nimas de tân­talo são en­con­tradas em Ru­anda, no en­tanto, Ru­anda é uma das prin­ci­pais ex­por­ta­doras de coltan. Em 2021, Ru­anda ob­teve apro­xi­ma­da­mente US $ 516 mi­lhões em mi­ne­rais ex­traídos, in­cluindo coltan. Ao causar in­di­re­ta­mente ins­ta­bi­li­dade nos lo­cais onde o coltan é en­con­trado em ex­cesso na RDC, Ru­anda con­se­guiu drenar bi­lhões de dó­lares do va­lioso mi­neral para atrair in­ves­ti­mentos es­tran­geiros ao longo dos anos. Apesar do go­verno ru­andês negar todas as ale­ga­ções, a ONU apre­sentou evi­dên­cias con­clu­sivas do fi­nan­ci­a­mento es­tatal do M23 e da con­ti­nu­ação do der­ra­ma­mento de sangue con­golês no solo con­golês sem re­morso.

Em abril de 2012, ex-re­beldes de­ser­taram do exér­cito con­golês e lan­çaram o grupo M23 em Kivu do Norte. Em três meses, 200.000 pes­soas foram for­çadas a deixar suas casas en­quanto os re­beldes se es­ta­ci­o­navam em Bu­na­gana, uma ci­dade na fron­teira com Uganda. Em 20 de no­vembro de 2012, o M23 as­sumiu o con­trole de Goma. De­pois de quase dois anos de ope­ra­ções im­pi­e­dosas, o M23 con­cordou em parar sua onda de vi­o­lência e foi ex­pulso de Kivu do Norte após ser der­ro­tado pelas FARDC (as forças ar­madas da RDC) e seus ali­ados na Co­mu­ni­dade de De­sen­vol­vi­mento da África Aus­tral (SADC).

Apesar de a Se­gunda Guerra do Congo ter ter­mi­nado for­mal­mente em 2003 e o M23 se render em 2013, o povo con­golês ainda não está livre. As pes­soas ainda estão mor­rendo; mu­lheres e cri­anças ainda são ví­timas de vi­o­lência se­xual; os mi­ne­rais con­ti­nuam sendo tra­fi­cados e Uganda e Ru­anda con­ti­nuam seus ata­ques se­cretos à RDC por meio do uso de grupos re­beldes.

Em 2011, o Congo foi no­meado a ca­pital do es­tupro do mundo, com pelo menos 48 mu­lheres/me­ninas sendo es­tu­pradas a cada hora. Uma ex-pes­qui­sa­dora sê­nior de Di­reitos Hu­manos Watch sobre a RDC, An­neke van Woun­den­berg, afirmou em uma tese: “Nunca antes me de­parei com os casos des­critos por mé­dicos con­go­leses, como ví­timas de es­tupro co­le­tivo tendo seus lá­bios per­fu­rados e de­pois tran­cados com ca­deado.” Em 2016, foi re­la­tado que 46 cri­anças com idades entre 18 meses e 10 anos foram se­ques­tradas e es­tu­pradas por mem­bros de grupos mi­li­ci­anos. Essas mu­lheres, me­ninas e até ho­mens na re­gião foram e con­ti­nuam sendo pro­po­si­tal­mente in­fec­tados com HIV. As ví­timas desses crimes são du­pla­mente trau­ma­ti­zadas: não apenas so­frem vi­o­la­ções dos ata­ques, mas também en­frentam o os­tra­cismo e o iso­la­mento em suas co­mu­ni­dades por tra­zerem ver­gonha às suas fa­mí­lias.

Em ou­tubro de 2010, a ONU di­vulgou o Re­la­tório de Ma­pe­a­mento do Congo, que de­ta­lhava al­gumas das vi­o­la­ções mais hor­rí­veis dos di­reitos hu­manos e do di­reito hu­ma­ni­tário in­ter­na­ci­onal ocor­ridas na RDC entre 1993 e 2003. Os atos de vi­o­lência es­tavam li­gados à ex­plo­ração de re­cursos na­tu­rais, no­me­a­da­mente coltan e ouro. O re­la­tório con­tinha 617 atos vi­o­lentos ale­gados. Em 2008, es­ti­mava-se que apro­xi­ma­da­mente seis mi­lhões de vidas foram per­didas como re­sul­tado da guerra, muitas vezes re­fe­rida como ge­no­cídio. Hoje, esse nú­mero au­mentou para bem mais de 12 mi­lhões, mais que o dobro das vidas per­didas du­rante o Ho­lo­causto. Além das vidas per­didas, o nú­mero de pes­soas des­lo­cadas con­tinua a au­mentar. Ví­deos mos­trando hordas de mo­ra­dores em busca de re­fúgio em ci­dades, vilas e países vi­zi­nhos se tor­naram vi­rais nas redes so­ciais. Se­gundo a Agência da ONU para Re­fu­gi­ados, o nú­mero de pes­soas des­lo­cadas nas pro­vín­cias do Norte Kivu, Sul Kivu, Ituri e Tan­ganyika, no leste do Congo, é de cerca de 5,8 mi­lhões, en­quanto cerca de 1 mi­lhão de pes­soas so­li­ci­taram asilo em países vi­zi­nhos.

O di­re­ci­o­na­mento e a di­zi­mação en­co­bertos do povo con­golês per­sis­tiram por mais de três dé­cadas en­quanto o mundo em geral per­ma­nece em si­lêncio. Em fe­ve­reiro de 2024, o M23 atacou no­va­mente, lan­çando ex­plo­sivos dentro e ao redor da ci­dade de Sake, em Kivu do Norte, perto de uma es­cola e uma igreja. Mas a diás­pora con­go­lesa tem de­nun­ciado con­sis­ten­te­mente os grupos mi­li­ci­anos, o go­verno con­golês e os corpos es­tran­geiros res­pon­sá­veis por esta crise hu­ma­ni­tária.

Os Com­ba­tentes – for­mados por con­go­leses mi­li­tantes que vivem na Eu­ropa – saíram às ruas de Bru­xelas, Lon­dres e Paris para de­nun­ciar o en­vol­vi­mento da UE em vá­rias oca­siões. Bo­ketshu Wayambo, um mú­sico con­golês, tornou-se um dos rostos pro­e­mi­nentes na diás­pora con­go­lesa, de­nun­ci­ando todas as fi­guras crí­ticas nesta er­ra­di­cação sis­te­má­tica de na­ci­o­nais con­go­leses. Web­sites como whdrc.org deram um rosto aos ho­mens maus e no­me­aram os in­di­ví­duos e ins­ti­tui­ções im­pli­cados na er­ra­di­cação si­len­ciosa de um povo. No Ins­ta­gram, contas como Ge­no­cost e Con­go­Fri­ends são de­di­cadas à or­ga­ni­zação co­mu­ni­tária e à cons­ci­en­ti­zação sobre as con­di­ções pre­cá­rias na RDC.

Mais do que um pro­blema econô­mico, este é um pro­blema hu­ma­ni­tário, não apenas porque os mi­ne­rais rou­bados da RDC sus­tentam um es­tilo de vida oci­dental global, mas também porque 12 mi­lhões de vidas foram per­didas. A mera so­bre­vi­vência é a con­fi­gu­ração pa­drão para o povo da RDC.

O mundo não pode mais ig­norar as in­jus­tiças so­fridas pelo povo con­golês. A de­núncia dos abusos no leste do Congo, no en­tanto, só será tão boa quanto a dis­po­ni­bi­li­dade de uma men­sagem clara, apoiada por fatos e acesso a in­for­ma­ções cor­retas. Em­bora as redes so­ciais te­nham se tor­nado ins­tru­men­tais no apelo por jus­tiça so­cial em áreas do mundo que têm sido de­li­be­ra­da­mente ig­no­radas por dé­cadas, as hash­tags vi­rais são apenas o co­meço.

Ruth Mu­din­gayi é co­fun­da­dora da What Is Hap­pe­ning in Congo?, uma or­ga­ni­zação de­di­cada a de­nun­ciar as atro­ci­dades que ocorrem na RDC.

Fonte: Africa is a country.
Tra­dução: Ga­briel Brito, editor do Cor­reio da Ci­da­dania.

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