Estamos em Portugal no sec. XIV, período após a fase de decadência e reflexo da “Peste Negra “em toda a Europa, e a escassez de alimentos é patente.
A falta de uma proteína e de alimentos que possam suprir as populações afetadas, é uma constante, e sobressai a necessidade de se reinventar pratos com as parcas opções de alimentos de que se tinha acesso, no caso, em Portugal, surge um prato, que “nasceu” da necessidade.
A alimentação em Portugal e em toda a Europa, era resumida à utilização de farinhas e farináceos, e poucos teriam acesso a proteína animal, sendo os mais ricos , aqueles que ainda tinham animais , mas ,perante a escassez geral , havia a disponibilidade de doação do sangue destes.
Essa oportunidade foi aproveitada por aqueles que viram o potencial da adição desse sangue aos farináceos, dos quais a Farinha de Milho era a mais utilizada, e provocar a fermentação de ambos misturados.
Regionalmente, estamos a falar da região do Minho, Norte de Portugal, onde tal adaptação foi o segredo, para que a mistura de ambos os complementos ajudou a uma fermentação diferenciada e enriquecida, para os pães que foram concebidos na época.
As “Papas de Serrabulho” ainda é, nos dias de hoje, um prato regional da região do Minho, o qual foi sendo enriquecido ao longo do tempo, onde os ingredientes foram atualizados, tanto na proteína, como na melhoria dos seus ingredientes e temperos.
Um prato que é servido com o aspecto de uma sopa e é servido no período de Inverno na região.
De grande consistência, tem como ingredientes a Farinha de Milho, carnes Suína, Bovina, Galinha, entre outros, oferece um acalentar para o período de frio e é concebido na época da matança do Porco, para que os ingredientes do prato sejam “frescos”.
E não podemos de esquecer da devida harmonização, que nos faz recuar á região dos “verdes”, com o seu devido acompanhamento com um vinho Verde-tinto, com as suas características de acidez residual e de um tanino com uma minerabilidade bem característica, perfaz um casamento perfeito
Mais uma harmonização clássica, que nos faz retornar na história a momentos em que a “necessidade faz o génio”, e a demonstração, à mesa , de um momento da história que reflete a capacidade de adaptação do ser humano perante as adversidades .
Pós “Peste Negra” e as “Papas de Serrabulho “, por João Carlos Farrapa
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